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sexta-feira, 18 de outubro de 2024

A Política na obra de Aristóteles: Estruturas, funções e a busca pelo bem comum


Saudações fraternas.

É preciso considerar, com nitidez, que boa parte da nossa compreensão acerca dos fenômenos políticos são profundamente influenciados pela tradição da Filosofia Política e, reconhecer este fato, coloca-nos diante da responsabilidade de estudar com afinco tal tradição.

Nesta ocasião propomos uma espécie de introdução à obra política de Aristóteles (c. 384 a.C.-322 a.C.), sem nenhuma dúvida um dos pilares da política ocidental. Por vezes foi paradigma central da política e mesmo em tentativas de contestação permaneceu referência fundamental para as deliberações, críticas e reformulações dos sentidos e fazeres possíveis à política.

A obra de Aristóteles, especialmente sua reflexão sobre a política, é uma das mais influentes na história do pensamento ocidental. Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., aborda a política não apenas como uma prática de governança, mas como um campo essencial para a realização do ser humano e a promoção do bem comum. Neste artigo, exploraremos os principais conceitos da política aristotélica, suas definições de diferentes formas de governo e a importância da ética na vida política.

📌 Aristóteles e a Natureza Política do Homem:

Para Aristóteles, o ser humano é, por natureza, um "animal político" (zoon politikon). Essa afirmação reflete a ideia de que a vida em sociedade é uma condição essencial e natural para a realização do potencial humano. A política, portanto, não é um mero instrumento de controle, mas uma arena onde os indivíduos podem desenvolver suas virtudes e alcançar a felicidade (eudaimonia).

Aristóteles argumenta que a polis, ou cidade-estado, é a forma mais elevada de organização política, pois permite a convivência e a participação ativa dos cidadãos. A polis é vista como um espaço onde os indivíduos podem viver juntos, compartilhar bens e perseguir o bem comum. Essa visão destaca a interdependência entre a política e a vida moral, pois, para Aristóteles, a política deve servir à promoção da virtude e ao bem-estar dos cidadãos.

A afirmação do humano como "animal político" carrega consigo tanto a noção de necessidade do fazer político, ou seja, não é uma atividade facultativa ou dispensável aos humanos, mas, também carrega a dimensão que as potencialidades humanas só podem ser plenamente realizadas com a participação na esfera política, exigindo que se discuta as possibilidades das formas de governo e a sua capacidade de realizar a participação humana que leva à realização das potencialidades.

Ao observar e descrever a realidade política de seu tempo, Aristóteles compreende que o exercício do poder político possui formas diferentes, especialmente na quantidade de agentes que exercem a liderança do poder, e cada forma possui princípios morais que permitem a concretização de virtudes ou vícios.

📌 As formas de governo - uma classificação das políticas:

Aristóteles desenvolve uma classificação das formas de governo baseada na quantidade de pessoas que exercem o poder e nos objetivos que essas formas buscam. Em sua obra "Política", ele identifica três formas corretas de governo e suas respectivas degenerações:

A Monarquia: é o governo de um único líder que busca o bem comum. Sua degeneração é a "tirania", onde o governante busca apenas seus interesses pessoais.

A Aristocracia: é o governo de um grupo de elites virtuosas, que busca o bem comum. Sua degeneração é a "oligarquia", onde o poder é exercido em prol dos interesses de poucos.

A Politeia ou República: Uma forma de governo que combina elementos da democracia e da aristocracia, focando no bem-estar coletivo, sugerindo o espaço para a participação de todos e o poder centralizado nos virtuosos para a realização. Sua degeneração é a democracia, que Aristóteles considera uma forma de desvio quando se transforma em uma tirania da maioria, onde os desejos da massa prevalecem sobre o bem comum.

Essa classificação reflete a preocupação de Aristóteles com a estabilidade e a justiça nas instituições políticas. Ele enfatiza que o ideal é um governo que represente os interesses de todos os cidadãos, promovendo a participação e a responsabilidade.

📌 A Importância da Ética na Política:

Um dos aspectos centrais da política aristotélica é a relação intrínseca entre ética e política, condição abrangente de todos os pensadores da antiguidade. Aristóteles acredita que a política deve estar fundamentada em princípios éticos, pois o objetivo final da vida política é a promoção da virtude e da felicidade dos cidadãos, o que podemos chamar de bem coletivo. Para ele, as leis e as instituições devem ser orientadas para cultivar boas práticas e comportamentos virtuosos.

Nesse contexto, a educação desempenha um papel crucial. Aristóteles defende que a formação moral e cívica dos cidadãos é essencial para a construção de uma sociedade justa. Ele argumenta que um bom cidadão deve ser educado tanto na ética quanto na política, desenvolvendo a capacidade de discernir o que é melhor para a comunidade acima dos bens pessoais. Essa intersecção entre ética e política é um legado duradouro que influencia a filosofia política até os dias atuais.

Este estreito vínculo entre política e ética visto na antiguidade, e em especial na obra de Aristóteles objeto deste estudo, talvez possua uma vantagem explicativa para as instituições políticas. A política não é instrumento pronto, mas, ao contrário, a política, assim como a ética, são dimensões da existência humana que devem buscar a boa vida tanto individualmente quanto coletivamente.

📌 A teoria da justiça na política de Aristóteles:

A justiça é um conceito central na política de Aristóteles. Para ele, a justiça é a virtude que garante a harmonia e a equidade nas relações sociais. Aristóteles distingue entre dois tipos de justiça: a justiça distributiva, que se refere à distribuição equitativa de bens e honras, e a justiça corretiva, que trata das reparações e restituições quando ocorrem injustiças.

Essa abordagem à justiça reflete a visão de Aristóteles de que uma sociedade justa deve ser capaz de equilibrar os interesses de seus cidadãos, garantindo que todos tenham acesso a oportunidades e recursos. A justiça, assim, se torna um pilar fundamental para a estabilidade e a prosperidade da cidade.

📌 O legado da filosofia política de Aristóteles:

A obra de Aristóteles sobre política é uma contribuição monumental e clássica que continua a influenciar o pensamento político contemporâneo. Sua abordagem holística do funcionamento das cidades, que integra ética, justiça e a natureza humana, oferece um modelo para a análise das instituições e das práticas políticas no conjunto das atividades humanas sociais. Aristóteles nos lembra que a política não é apenas uma questão de poder e controle, mas, acima de tudo, uma busca pela realização do bem comum e da virtude.

O legado de Aristóteles nos convida a refletir sobre a importância da participação cidadã, da educação cívica ou cidadã e da promoção de valores éticos nas relações sociais. A filosofia política de Aristóteles nos convida a analisar as realidades existentes, classificar, entender e refletir sobre os princípios que as sustenta e compreender que para a construção do bem comum diferentes métricas podem ser exercidas.

Em suma, Aristóteles se tornou um clássico da tradição humana por sua alta capacidade de compreender a multiplicidade de fenômenos políticos de seu tempo, buscando formas de analisar racionalmente e consistentemente, embasado visões que permitiriam aplicar as métricas em novos modelos de sociedades e cidades. Desta forma, possibilitou as categorias para a discussão política e ética com delimitação semântica e epistêmica, apoiando o grau de segurança e validade das análises e propostas de intervenção na realidade. Não é a toa que o preceptor de Alexandre, o Grande, tenha ganhado tamanha atenção. É necessário estudar o conjunto das obras de Aristóteles, incluindo um estudo aplicado sobre a política, caso estejamos dispostos a compreender a nós mesmos nos laços de nossa humanidade.

Espero que tenham gostado e, caso possam, ajude este texto a chegar no máximo de pessoas possíveis. Compartilhe, comente e curta!

Até breve.
Respeitosamente.
Prof. Ricardo

Palavras-chave: Aristóteles; política; filosofia política; ética; monarquia; tirania; aristocracia; oligarquia; república; democracia; história da filosofia; história da filosofia política

domingo, 13 de outubro de 2024

Uma resenha de "A República", de Platão


Saudações fraternas.


Uma das obras mais importantes da história da filosofia, e talvez da humanidade, foi escrita no século IV antes de Cristo, por aquele que se tornou referência clássica, Platão (c. 428 a.C.-347 a.C.). Não seria errado definir "A República" como obra de Filosofia Política, mas, é preciso reconhecer que ela não contribui exclusivamente para esta área, contribui muitíssimo para a Ética, a Epistemologia, a Antropologia e talvez mais uma dezena de campos de investigação humana.


Escrita por volta de 380 a.C., "A República" (em grego, Politeía) é uma obra em forma de diálogo, onde Sócrates, o mestre de Platão, é a personagem principal. O contexto da obra é marcado por um período de grandes transformações políticas em Atenas, após a Guerra do Peloponeso, que enfraqueceu a democracia ateniense e levou a uma série de conflitos e instabilidades internas. Platão, profundamente desiludido com a política de seu tempo, propõe nesta obra uma reflexão sobre a natureza da justiça, a organização ideal da sociedade e a educação dos agentes sociais, principalmente marcando um contraste nítido entre o ideal e o mundano.


"A República" é uma obra filosófica de grande abrangência que busca responder a perguntas fundamentais sobre a justiça, o conhecimento e a verdadeira natureza da realidade. Além disso, a obra é uma verdadeira síntese das principais ideias da filosofia platônica, como a teoria das ideias, o mito da caverna e a doutrina do filósofo-rei.


Exploraremos, nesta ocasião, uma resenha geral sobre a obra, deixando para futuras ocasiões o estudo pormenorizado e técnico do texto.


📌 Estrutura da Obra

"A República" está dividida em dez livros (ou seções), nos quais Platão explora de forma dialética (através de diálogos) os problemas da justiça e da sociedade ideal. A obra começa com uma discussão sobre a natureza da justiça e, ao longo do texto, desenrola-se em uma análise abrangente da política, da ética, da epistemologia e da metafísica.


📌Principais Temas e Argumentos

O Problema da Justiça (Livros I e II)

O diálogo começa com uma discussão entre Sócrates e outros personagens (Céfalo, Polemarco, Trasímaco) sobre a natureza da justiça. Sócrates logo desafia as definições tradicionais, como a justiça sendo "dizer a verdade e pagar as dívidas" ou "dar a cada um o que lhe é devido". O sofista Trasímaco argumenta que a justiça não é mais do que o interesse do mais forte, ou seja, uma questão de poder, não de moralidade.


É aqui que Platão começa a desenvolver uma teoria ideal de justiça, que não se baseia no interesse dos poderosos, mas na harmonia e na ordem da alma e da cidade. Platão rejeita a visão cínica de Trasímaco e sugere que a justiça é algo intrinsecamente valioso, tanto para o indivíduo quanto para a cidade, e não apenas o interesse dos fortes ou uma convenção social.


A Cidade Ideal e a Divisão das Funções Sociais (Livros II-IV)

Para entender a justiça no indivíduo, Sócrates propõe uma analogia com a cidade. Ele começa a descrever como seria a cidade ideal (kallipolis), alegando que ela seria composta por três classes principais, cada uma com uma função específica: Produtores ou artesãos (agricultores, artesãos, comerciantes) – responsáveis pela produção de bens; Guardas (guardiões ou soldados) – encarregados da defesa e da manutenção da ordem; Governantes (filósofos-reis) – aqueles que detêm o conhecimento verdadeiro e são responsáveis pela tomada de decisões.


Cada uma dessas classes corresponde a uma parte da alma humana, que Platão divide em três: A parte racional – relacionada à busca pela verdade e à sabedoria; A parte irascível – associada à coragem e à vontade; A parte apetitiva – ligada aos desejos e às necessidades corporais.


A justiça na cidade emerge quando cada classe cumpre sua função sem interferir nas funções das outras. Da mesma forma, a justiça no indivíduo ocorre quando as três partes da alma estão em harmonia, com a razão controlando os apetites e a coragem auxiliando.


A justiça é uma forma de harmonia, tanto na cidade quanto na alma. A cidade ideal é aquela em que todos desempenham suas funções adequadamente, sem conflitos ou usurpações.


A Educação e a Alegoria da Caverna (Livros V-VII)

Platão dedica uma parte significativa da obra à educação, especialmente dos filósofos-reis. Ele argumenta que os governantes da cidade ideal devem ser filósofos, pois só eles têm acesso ao conhecimento verdadeiro (a episteme), enquanto as demais pessoas vive limitada no mundo das opiniões (a doxa).


Neste ponto, Platão introduz sua famosa Alegoria da Caverna (Livro VII), uma metáfora poderosa que ilustra a diferença entre o mundo das aparências e o mundo das ideias. Na alegoria, os seres humanos estão presos em uma caverna, vendo apenas sombras projetadas na parede, sem perceber que há uma realidade verdadeira fora da caverna. O filósofo é comparado àquele que escapa da caverna e vê o mundo real (o mundo das ideias), compreendendo a forma do bem, que é a fonte de toda verdade e conhecimento.


A educação é o processo de ascensão da alma, do mundo das sombras (opiniões) para o mundo da luz (conhecimento verdadeiro). O governante ideal é aquele que compreende a verdade última (a forma do bem) e pode guiar a cidade com sabedoria.


O Mito de Er e a Imortalidade da Alma (Livro X)

No último livro, Platão apresenta o Mito de Er, uma narrativa sobre a vida após a morte. O mito descreve como as almas são julgadas após a morte e escolhem seu próximo destino. A importância dessa passagem é dupla: Platão reforça a ideia da reencarnação e da vida justa como uma preparação para a outra vida, e também oferece uma conclusão moral para toda a obra, enfatizando que vale a pena viver uma vida justa, pois isso traz recompensas tanto nesta vida quanto na próxima.


A justiça é recompensada no além-vida, e a alma é imortal. O Mito de Er serve como um incentivo para a prática da justiça, sugerindo que o destino da alma após a morte está diretamente ligado à conduta moral realizada em vida.


📌A Teoria das Ideias na República:

A doutrina das ideias ou formas é central na filosofia de Platão e permeia "A República". Para Platão, as ideias são realidades eternas e imutáveis, das quais o mundo sensível é apenas uma cópia imperfeita. O conhecimento verdadeiro só é possível através da contemplação dessas ideias, especialmente a ideia do bem, que é a mais elevada de todas.


Neste sentido a obra levanta um importantíssimo ponto, a política é a vida social não são fenômenos exclusivamente convencionais ou acordados, mas, são relacionados diretamente com a busca pela verdade, pela justiça e por toda virtude humana.


📌A justiça na República:

Platão redefine, como proposição conclusiva, a justiça como a harmonia entre as partes da sociedade e da alma. Não é apenas uma questão de comportamento externo, mas uma condição interna de equilíbrio e ordem. É uma concepção de justiça que pode ser chamada de organicista, porquê não se trata de casos de repetição de padrões e aplicáveis constantemente, trata-se da variação do comportamento que leve a harmonia do corpo individual e social.


Tal concepção de justiça é, sem dúvidas, uma das grandes precursoras para o que viria a se consolidar como Direito, ou, dito de outra forma, as reflexões inauguradas por Platão formalizam e demonstram a necessidade social dos meios pelos quais as instituições sociais podem ganhar em relevância epistêmica quando aderem a sua busca peala verdadeira justiça. Embora a ideia proposta por Platão esteja bastante distante das concepções modernas, é inegável que a sua construção de uma ideia de justiça permanece viva até os nossos dias.


📌O Governo dos Filósofos

Um dos pontos mais revolucionários da obra é a defesa do governo dos filósofos. Para Platão, o poder político deve estar nas mãos daqueles que compreendem a verdade e têm o conhecimento necessário para guiar a cidade de maneira justa e eficaz.


Talvez para nós supostamente acostumados com regimes democráticos modernos a proposta de Platão pareça centralizadora, aristocrática e até autoritária. No entanto, não podemos desvincular da completude de sua teoria a noção da governança centralizada nos chamados Reis Filósofos. A proposta de Platão visa respeitar a natureza humana, mesmo que isso possa ser complexo em nossos tempos, e por tentar respeitar tal natureza a sua proposta visa alcançar um grau de liberdade inviável no sistema vigente no momento de sua escrita.


📌A Educação

A educação, para Platão, não é meramente técnica ou utilitária, mas um processo filosófico profundo que leva à contemplação da verdade. Somente aqueles que passaram por esse processo têm a capacidade de governar com sabedoria.


A educação, nos moldes propostos por Platão, tem uma função social explícita de construção de harmonia. Ainda, possui uma dimensão absolutamente esclarecedora, demonstrando racionalmente as possibilidades aos indivíduos e buscando criar critérios de justiça individual e coletiva em todos os momentos.


📌A Alegoria da Caverna

A Alegoria da Caverna é uma das metáforas mais conhecidas da filosofia. Ela ilustra a relação entre o mundo sensível e o mundo das ideias, e o papel da educação na ascensão da alma para o conhecimento verdadeiro.


A alegoria, embora muito conhecida e comentada, permanece como grande lição para todos nós. Afinal, é através do sacrifício, do esforço e do trabalho - inclusive intelectual - que deixamos o mundo sensível, das aparências e acessamos os conceitos e as ideais justas. A capacidade de sair do senso comum, das sombras da ignorância, são os elementos fundamentais tanto para o desenvolvimento pessoal quanto o desenvolvimento coletivo como sociedade ou nação.


📌Relevância de "A República" na Filosofia Contemporânea

"A República" continua sendo uma obra fundamental para a filosofia política e a teoria da justiça. Suas ideias sobre a educação, o governo ideal, e a natureza do conhecimento influenciaram filósofos ao longo dos séculos, desde Aristóteles até pensadores modernos como John Rawls. Embora o modelo da cidade ideal de Platão possa parecer utópico e inatingível, sua análise das virtudes da alma e sua defesa do governo baseado no conhecimento ainda são temas de debate na filosofia e nas ciências sociais.


Talvez não se trate de uma obra utópica, mas, na verdade, uma busca conjectural de delimitação de sua realidade vivida e de busca por superações que sejam capazes de alcançar novos níveis de realização de nossa vida política, individual, epistêmica, ética, estética, etc.


📌Por fim...

"A República" de Platão é uma obra monumental que explora questões filosóficas fundamentais sobre a justiça, o conhecimento e a política. Platão não apenas propõe um modelo ideal de sociedade, mas também oferece uma visão profunda da natureza humana e do papel da educação e da filosofia no desenvolvimento de uma vida virtuosa. Ao longo dos diálogos, Platão nos convida a refletir sobre o que significa ser justo, o que constitui uma boa vida e como podemos alcançar o verdadeiro conhecimento. 


Nada que eu possa escrever nesta resenha será capaz de superar a necessidade e grandeza que o estudo da obra diretamente pode proporcionar. Por isso, por mais que aqui estejam colocadas as ideias gerais propostas por Platão, somente o contato, estudo e leitura rigorosa, permitirá a você, estimado leitor (a), criar as reflexões pertinentes para as nossas questões mais íntimas como humanos.


Espero que tenha gostado deste texto. Caso possa, compartilhe, comente e ajude este texto a chegar no máximo de leitores possíveis.


Até breve.

Respeitosamente.

Prof. Ricardo

sábado, 12 de outubro de 2024

A ideia de amor na filosofia de Platão




Saudações fraternas.

A filosofia de Platão (c. 428 a.C.-347 a.C.) é fantástica e complexa e, sem nenhuma dúvida, um clássico da tradição humana de todo o globo, abrangendo uma variedade de temas que vão desde a política até a ética e, entre eles, destaca-se a concepção e investigação do amor, objeto deste texto. 

Para Platão, o amor não é apenas uma emoção ou um sentimento passageiro; ele é um fenômeno profundo que pode levar o indivíduo a uma busca pela verdade e pela beleza, sendo um dos principais motores para o desenvolvimento pessoal e espiritual - não em sentido religioso, mas com o significado de elevação metafísica. Neste artigo, exploraremos as nuances da ideia de amor na filosofia platônica, suas manifestações e implicações na vida humana.

Aqui, não realizaremos um estudo exaustivo, mas, faremos uma introdução à temática e buscaremos, na medida de nossas capacidades, uma dimensão didática acerca do objeto trazido.

📌 O Amor como Eros: Uma Força Motivadora:

Em suas obras, especialmente no "Banquete", Platão apresenta o amor sob a forma de "Eros", que é entendido como mais do que um simples desejo físico. Eros, para Platão, é uma força que impulsiona os indivíduos a transcender o mundano e a buscar o que é eterno e imutável. No diálogo do Banquete, diferentes personagens apresentam suas visões sobre o amor, mas é através da fala de Sócrates que Platão oferece uma visão mais filosófica e elevada.

Sócrates, citando a obra de Diotima, uma sacerdotisa, descreve Eros como um desejo de imortalidade. Essa ideia sugere que o amor está intrinsecamente ligado à busca por significado e à continuidade da vida. O amor, portanto, não é apenas uma busca por prazer ou satisfação momentânea; é uma busca pela beleza e pela verdade absoluta e verdadeira que nos leva a um estado de transcendência.

📌 A escada do amor: um caminho para a beleza:

Platão utiliza a metáfora da "escada do amor" para ilustrar a jornada que um amante deve percorrer. Essa escada possui degraus que vão do amor físico e particular (o amor por um corpo) até o amor mais elevado e universal (o amor pela ideia de beleza em si). A progressão pelos degraus da escada representa uma progressão do amor, onde o indivíduo começa a perceber que a verdadeira beleza não reside apenas nos corpos, mas na beleza das almas e, finalmente, na beleza das ideias.

Essa ascensão culmina na contemplação da "Ideia de Beleza", que é eterna e imutável. Para Platão, essa experiência de amor e transcendência é essencial, pois leva o indivíduo ao conhecimento verdadeiro e à sabedoria. É uma jornada que transforma o amante, fazendo-o perceber que o amor é um caminho para a realização espiritual.

📌 O amor e a educação: a função social do conceito de amor Platônico:

Platão também acredita que o amor desempenha um papel fundamental na educação e na formação do caráter. O amor, no sentido platônico, é caracterizado pela valorização da virtude e da amizade em vez do desejo físico, é visto como um meio de promover o crescimento intelectual e moral. No "Banquete", a ideia de que o amor pode inspirar os indivíduos a se tornarem melhores é uma mensagem central e fundamental.

O amor, quando orientado para o bem e a beleza, pode levar em última instância à formação de cidadãos virtuosos. Platão propõe que os educadores e líderes devem cultivar um ambiente onde o amor pela sabedoria e pela verdade prevaleça. Essa concepção do amor reflete a visão platônica de que a sociedade deve ser moldada por indivíduos que buscam não apenas o prazer pessoal, mas também o bem comum, elevando a dimensão de nossa existência.

📌 O amor e a filosofia: uma conexão necessária:

A ideia de amor na filosofia de Platão é indissociável da busca pelo conhecimento. O amor é visto como um motor que impulsiona a filosofia e a investigação da verdade. Ao amar, o indivíduo é levado a questionar, a refletir e a buscar uma compreensão mais profunda da realidade. Essa conexão entre amor e filosofia é fundamental para entender a intenção de Platão ao discutir esses temas.

Platão acredita que o amor, ao estimular a busca pela verdade, na medida que instiga o indivíduo pela busca pela beleza verdadeira, capacita o indivíduo a transcender suas limitações e a se aproximar do conhecimento verdadeiro. Assim, o amor se torna uma ponte que liga o homem à episteme (ou conhecimento verdadeiro), permitindo que a alma se eleve e se una ao conhecimento eterno.

📌 O legado do conceito de amor Platônico:

A ideia de amor na filosofia de Platão é um convite à reflexão sobre a natureza do amor e sua importância na vida humana. Em vez de uma mera emoção, Platão nos apresenta o amor como uma força vital que nos impulsiona a buscar a verdade, a beleza e o bem. Essa concepção continua a ressoar na filosofia contemporânea, desafiando-nos a reconsiderar nossas próprias experiências de amor e sua relação com nosso crescimento pessoal e social.

O legado de Platão nos ensina que o amor, quando orientado para a virtude e o conhecimento, pode ser um caminho para a transcendência e a realização espiritual. Através da sua obra, somos lembrados da profundidade e do potencial transformador do amor na busca pela sabedoria e pela verdade.

Em suma, talvez de modo contrário ao que o senso comum atribui como significado de amor Platônico, o seu verdadeiro legado seja que o amor é uma força capaz de mover cada indivíduo para longe da ignorância e para a direção da verdade das ideias.

Espero que tenha gostado deste texto. Caso possa, compartilhe, comente e curta! O seu apoio é muito importante para este projeto.

Até breve.
Respeitosamente.
Prof. Ricardo

Palavras-chave: Platão; Filosofia; amor; amor pela sabedoria; transcendência; conhecimento; Platônico; Amor Platônico.

O que é a política? Etimologia e história do conceito




Saudações fraternas. 

A política é um dos aspectos mais cruciais da vida em sociedade e, portanto, uma das categorias centrais para entender a humanidade, influenciando diretamente a organização, a governança e as interações entre os indivíduos. 

No entanto, por mais visceral que possa parecer, mesmo imersos em política, muitas vezes não há exatidão quando se indaga: o que realmente significa "política"?

Para responder a essa pergunta de modo adequado, é essencial explorar a etimologia do termo e a evolução histórica do conceito ao longo dos séculos, respeitando e compreendo as tradições que nos conduziram aos modelos, estruturas e concepções atuais.

📌 Etimologia da palavra "Política":

A palavra "política" tem suas origens ocidentais no grego antigo, derivando do termo "polis", que significa "cidade" ou, para aproximar de nossa concepção moderna, "cidade-estado". Na Grécia Antiga, a "polis" era o núcleo da vida social, econômica e política, era espaço e ocasião onde os cidadãos se reuniam para discutir assuntos de interesse comum. A partir de "polis", formou-se o termo "politikos", que se refere a tudo o que diz respeito à cidade ou à cidadania.

Com o tempo, o termo passou a designar as atividades relacionadas à governança e às relações de poder, alterando seu significado de maneira mais estrita/técnica, descrevendo fenômenos propriamente políticos e distinguindo-os de outros relacionamentos sociais humanos. Assim, "política" passou a representar não apenas a administração dos assuntos públicos, mas também o conjunto de práticas, instituições e normas que regulam a vida em sociedade. Essa etimologia destaca a conexão intrínseca entre a política e a vida comunitária, enfatizando que a política é, em essência, uma atividade que envolve os cidadãos e suas interações.

É evidente que expressando desta forma estritamente etimológica ficamos tentados em afirmar que "política é tudo que envolve a humanidade". Mas, justamente a dimensão da cidadania, da possibilidade e capacidade de exercê-la, será determinante para que possamos entender certas atividades como políticas e outras como não políticas. Para tentar esclarecer ainda mais os sentidos possíveis e dar precisão aos significados, vamos explorar a história do conceito.

📌 A História do Conceito de Política:

A política, tal como a conhecemos hoje, começou a tomar forma na Grécia Antiga, especialmente nas cidades-estado como Atenas. Durante o século V a.C., a democracia ateniense emergiu como um modelo de participação cidadã, onde os cidadãos (na época a noção de cidadania excluía mulheres, escravos e estrangeiros) tinham o direito de participar diretamente nas decisões que hoje podemos chamar de governamentais, mas que podemos entender como decisões da cidade. Filósofos como Platão e Aristóteles refletiram sobre a natureza da política, suas funções e seus efeitos na vida humana, permitindo que nós, hoje, possamos conhecer os contornos da prática que era realizada naquele momento.

Platão, em suas obras, de modo muito geral, explorou a ideia de justiça e o papel dos governantes, propondo que os filósofos deveriam governar devido ao seu conhecimento superior. Ao estabelecer um processo de crítica ao fenômeno da democracia ateniense de sua época, Platão ofertou para nós um rico material que permite compreender como funcionavam as instituições, as relações e as decisões, criando, ainda, uma forma de Filosofia Política, num sentido de constatação racional da realidade e de vislumbre das possibilidades que podem ser desenvolvidas para transformar a realidade política, um campo de investigação que atuamos até nossos dias.

Aristóteles, por sua vez, analisou diferentes formas de governo e identificou a política como uma atividade que visa o bem comum, definindo o homem como um "animal político" (zoon politikon) por sua natureza social. Para argumentar em favor de sua concepção antropológica, Aristóteles oferece em sua obra um vasto material de referência do funcionamento de diversas cidades gregas e até mesmo estrangeiras. Graças a este modo de conduzir sua obra a Filosofia Política passou a criar critérios para categorização e descrição dos fenômenos políticos com critérios racionais e explícitos, condições fundamentais para a Filosofia Política e sua forma de atuar até hoje.

Com o advento da Roma Antiga, a política passou a ser entendida também sob a perspectiva do direito e da administração pública, muito pelo motivo de fortificação das instituições sociais que criaram formas diretas de intervenção na realidade da sociedade, ou seja, a política sai de uma dimensão de reunião em prol de uma intervenção e passa a ser uma intervenção permanente e sistemática na realidade, intervenção estruturada, regulamentada por critérios formais, vinculando-se àquilo que hoje chamamos de direito . A República Romana introduziu conceitos como cidadania, representação e instituições políticas, que influenciaram o desenvolvimento da teoria política ocidental. O governo romano era caracterizado pela presença de senadores e magistrados, que desempenhavam papéis fundamentais na governança da cidade e na legislação.

O legado romano é visível em muitos aspectos da política moderna, especialmente nas instituições representativas e nos sistemas jurídicos que ainda prevalecem hoje.

Durante a Idade Média, a política que podemos chamar de Ocidental foi fortemente influenciada pela religião, com a Igreja Católica exercendo um papel central na governança. A política teocrática predominou, onde os líderes políticos eram frequentemente vistos como representantes divinos. Essa relação entre poder e religião moldou a concepção de autoridade e legitimidade, criando uma estrutura na qual a política estava profundamente entrelaçada com a moralidade religiosa.

O Renascimento trouxe uma nova abordagem para o pensamento político, enfatizando a razão e a autonomia do indivíduo. Pensadores como Maquiavel começaram a desvincular a política da moralidade tradicional, propondo uma análise mais pragmática e realista do poder. Essa mudança de paradigma preparou o terreno para o desenvolvimento das teorias políticas modernas.

Nos séculos XVII e XVIII, a filosofia política se aprofundou com pensadores como Hobbes, Locke e Rousseau, que exploraram questões sobre o contrato social, a natureza do governo e os direitos individuais. Esses debates foram fundamentais na formação de modernas democracias liberais, onde a política é entendida como um campo de discussão sobre poder, direitos individuais e deveres cívicos.

Na era contemporânea, a política se expandiu para incluir uma diversidade de sistemas e ideologias, desde democracias liberais, as contestações Socialistas, Comunistas e Anarquistas, até regimes autoritários que cometeram atrocidades desumanas. A globalização, a tecnologia e as mudanças sociais trouxeram novos desafios e oportunidades para a política, exigindo uma reavaliação constante das práticas e teorias políticas.

A política atual também é marcada pela crescente importância da participação cidadã, das ruas, das redes sociais e dos movimentos sociais, que influenciam o que é comumente chamada de agenda política e promovem a mobilização em torno de questões individuais, sociais e ambientais.

📌 Conclusão: A Essência da Política:

A política é um conceito multifacetado devido seus aspectos de vinculação com as dimensões históricas, geográficas, sociais, econômicas, etc, que evoluiu, transformou e substituiu, enraizado na vida comunitária e na busca pelo bem comum ou ao menos pela gestão da vida em comum. Desde suas origens na Grécia Antiga até a complexidade da política contemporânea, a política continua a ser uma força na organização da sociedade. Compreender a etimologia e a história do conceito de política nos permite apreciar sua relevância e as múltiplas dimensões que ele abrange, tornando-se uma ferramenta fundamental para a análise e a prática da vida em sociedade.

É impossível desvincular a compreensão da política dos aspectos filosóficos que envolvem o tema. Através deste texto buscamos demonstrar este vínculo. Devemos considerar as limitações deste texto, mas, em suma, a ideia que pretendemos trazer envolvia justamente possibilitar ao leitor a compreensão etimológica e as linhas gerais históricas que envolvem o conceito "política".

Espero que tenha gostado. Caso possa, comente, curta e compartilhe! Assim você ajuda este projeto e faz as ideais serem presentes na cosmovisão de cada vez mais pessoas, ampliando as possibilidades de compreensão teórica e prática que envolve a nossa existência humana.

Até breve.
Respeitosamente.
Prof. Ricardo

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Uma resenha de Apologia de Sócrates: ou sobre a radicalidade da razão




A Apologia de Sócrates, escrita por Platão, é uma obra que atravessa o tempo, ecoando a voz serena do filósofo ateniense que diante da acusação de impiedade e corrupção da juventude manteve a sua fidelidade ao que surgia ali e que hoje conhecemos como Filosofia. 


O texto se torna um marco na história do pensamento ocidental e talvez transcenda este "lado" do globo, não por registrar a defesa de Sócrates em seu julgamento, mas também por apresentar um retrato singular da filosofia socrática e de seu impacto sobre a sociedade ateniense, fazendo da filosofia uma tradição humana única que flerta com a eternidade.


A obra se inicia com uma descrição de Sócrates como um homem de caráter humilde em comparação com seus acusadores e dedicado à busca da verdade, ou no mínimo como alguém que utilizava a figura humilde como recurso retórico convergente com o sistema de ideias que promovia. Ele não se apresentou como um sábio, mas como um questionador incansável da sabedoria alheia, revelando a ignorância dos que se acreditavam sábios apenas porque estes não resistiam as perguntas impostas. Em sua defesa, ele argumenta que sua missão não é corromper os jovens, mas sim despertá-los para a busca da virtude e do conhecimento conhecimento verdadeiro. O conhecimento verdadeiro não poderia ser encansado através da aceitação da autoridade de quem profere o discurso, mas a verdade se manifesta através do respeito pela própria ordem da razão.


Sócrates expõe a razão de sua incessante busca pela sabedoria: uma voz interior, um "demônio", que o guia e o impede de se envolver em atividades que julga indignas. Este "demônio" não possui um sentido cristão, uma vez que estamos lendo um texto de alguns séculos antes do nascimento de cristo e o sistema de credo espiritual ateniense é outro - é o sistema que chamamos de modo vulgar de mitologia grega.


Sócrates se recusa a seguir as convenções sociais e as leis que considera injustas, priorizando a busca pela justiça e pela verdade. Mas, vale o destaque, não se trata de uma recusa por capricho da opinião pessoal, ao contrário, trata-se de uma recusa por promover a razão como instrumento e critério. Não se trata do que Sócrates achava certo ou errado, mas sim do que a razão demonstrou ter consistência e veracidade ou não. 


O texto retrata de modo brilhante e didático a ironia socrática, uma ferramenta fundamental em seu método de questionamento, um instrumento simultaneamente retórico e epistêmico. Ele utiliza a ironia para desmascarar a falsa sabedoria, expondo as contradições e a superficialidade dos discursos dos que se acreditam sábios. Essa técnica se torna um instrumento para estimular o raciocínio e o autoconhecimento.


A Apologia, também, demonstra a coragem e a serenidade de Sócrates diante da morte. Ele rejeita a covardia e a busca por salvação a qualquer custo, preferindo morrer defendendo seus princípios e sua busca pela verdade do que se acovardar e aceitar o sistema de mentiras que vigorava com naturalidade. Segundo Sócrates a morte não representa um fim, mas uma transição para outro estado de existência, onde ele poderá continuar sua busca pela sabedoria.


A obra também revela a crítica de Sócrates à política ateniense. Ele observa a corrupção do sistema político e a influência do dinheiro e do poder sobre as decisões. Ele prefere o caminho da sabedoria e da virtude, buscando a transformação individual em vez de se envolver naquela vida pública. Esta escolha o levou ao tribunal, foi justamente por buscar sair do sistema de ideias falsas que estas passaram a ser fragilizadas no sentido público e Sócrates passa a representar um risco para a sociedade ateniense. 


Podemos definir que A Apologia de Sócrates é um texto que nos convida à reflexão sobre a natureza da verdade, a importância da busca pelo conhecimento e a necessidade de vivermos de acordo com os princípios da razão. A obra se torna um poderoso testemunho da importância da liberdade de pensamento, da coragem de defender a verdade e da necessidade de buscar a justiça em todas as esferas da vida e, acima de tudo, talvez seja a maior representação ou a mais radical representação de fidelidade à razão acima de qualquer outra dimensão humana, aquilo que se tornou a máxima da tradição filosófica ao longo de sua ainda viva história e que permitiu a esta tradição cobiçar a eternidade. 


A Apologia de Sócrates é uma obra rica em lições para todas as épocas. Ela nos incentiva a questionar as verdades estabelecidas, a buscar a sabedoria e a viver com integridade, mesmo diante de desafios e adversidades. A obra se torna um farol de esperança para aqueles que buscam a verdade, a justiça e a virtude em um mundo muitas vezes dominado pela ignorância, pela covardia e pela injustiça.


Esta é só uma resenha, nada substitui a leitura desta obra clássica para a história das ideias e da tradição filosófica. Por isso, caso possa, dedique um tempo de sua vida nestas poucas páginas e grandes ideias.


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E você, ficou com vontade de ler esta importância obra de Platão? Conte o que achou da resenha e das reflexões suscitadas nos comentários deste texto. Caso possa, ainda, apoie este trabalho compartilhando e indicando o portal para que cada vez mais possa produzir conteúdos educativos, filosóficos e reflexivos para as pessoas de forma aberta e livre.


Respeitosamente.

Professor Ricardo 




sábado, 10 de agosto de 2024

Mergulhando nos Fundamentos: Uma importância vital da Filosofia


Saudações estimadas leitores e estimados leitores.


Quando não é oportunidade de mostrar a importância da tradição filosófica? Sempre que tenho oportunidade em espaços não convencionais, ou grupos de amigos (as), procuro garantir uma fala para defender o meu ofício, mas, acima de tudo, de ser mais uma voz que defende a contribuição única que a Filosofia oferece para cada ser humano e para toda a espécie.


Palavras-chave: Filosofia; Metafísica; Epistemologia; Ética; Lógica; Estética; questões da existência.






A Filosofia não é só isso, mas é um excelente convite à reflexão de cada pessoa e uma excelente oportunidade para a humanidade.


Imagine um mapa que nos guia pelas grandes questões da vida, especialmente mostrando que embora cada um de nós esteja sozinho em alguma perspectiva, todos nós compartilhamos a humanidade. Qual a origem do universo, da natureza, da realidade, o significado da existência?  O estudo da tradição da filosofia é ter contato com esse mapa, um convite à reflexão profunda sobre quem somos, de onde viemos e para onde vamos ao lado das mentes que dedicaram a vida para produzir algo relevante e significativo para nossa espécie.


Neste texto, faremos uma jornada por alguns temas fundamentais que moldaram o pensamento filosófico ao longo dos séculos e que podem ser ocasiões encantadoras para despertar ao filosofar. Sem a menor pretensão de esgotar o assunto, nosso objetivo é despertar a curiosidade e convidar você a se aventurar nesse universo de ideias.






Em perspectiva da tradição filosófica, algumas áreas e conjunto de ideias formam pilares da filosofia.


Existe algo além da realidade material? O que existe além da realidade material? Qual a natureza da realidade? Questões sobre o ser, o existir, a substância, a realidade, a natureza, o espaço e o tempo compõem aquilo que a tradição filosófica chama de METAFÍSICA.


O humano é capaz de conhecer o mundo? Como adquirimos conhecimento? O que podemos conhecer de verdade? A busca pela certeza e a natureza da verdade é o objeto daquilo que na tradição filosófica se chama EPISTEMOLOGIA.


Por que somos como somos? Por que agimos como agimos? O que é o bem? Qual o sentido da vida? A busca pelos princípios morais que guiam nossas ações são os limites de um campo fértil da tradição filosófica chamada de ÉTICA.


Tudo que pensamos está certo? Como distinguir um pensamento correto de um falso? Como pensamos de forma correta? Quais são os princípios do raciocínio válido? A busca pela clareza e coerência no pensamento constitui o escopo de investigação da LÓGICA como uma das mais tradicionais áreas da filosofia em todos os tempos.


Por que algumas manifestações nos tocam com prazer e outras nos causam repulsa? O que é a beleza? Qual a função da arte? A busca pela compreensão da experiência estética e da estética no campo artístico constitui o conteúdo daquilo que a tradição filosófica chama de ESTÉTICA.


Grandes filósofos e grandes filósofas ao longo do tempo e de lugares trabalharam estas e muitas outras questões e registraram suas ideias, compreensões, interpretações e acima de tudo os critérios que os levaram a pensar como pensaram proporcionando uma das áreas de conhecimento mais antigas e mais interessantes já produzidas pela humanidade. Não é possível imaginar nenhum tema ou conteúdo que de alguma forma não pode se associar a uma produção filosófica muito relevante.


Tendo em vista que a tradição filosófica é abrangente na mesma medida que rigorosa é comum que outras áreas do conhecimento falem sobre assuntos filosóficos, mas, um destaque que é pertinente: não é porque falamos em vários momentos de questões filosóficas que estamos falando de forma filosófica. Para melhor ilustrar isso basta pensar em certos temas que podem ser maravilhosos convites para você acessar a filosofia, mas que não necessariamente lhe colocam filosofando. A busca pela verdade interior, o autoconhecimento é um dos temas mais antigos da filosofia, mas, também é tema de tantas outras áreas e até dos charlatões. Como a filosofia trata tal tema? Que tal investigar sobre como o método socrático foi elaborado e qual a sua contribuição sobre a busca da verdade interior?


Em algum momento de sua vida já pensou que possui uma alma? Você tem ideia de onde surgiu esta ideia de sermos portadores de uma alma além do corpo?  Tem ideia de quem já falou sistematicamente sobre o tema? Já pensou que além das coisas materiais o mundo possui uma realidade inteira composta exclusivamente de ideias? Já refletiu sobre o que é verdadeiramente justiça diante de uma sensação de injustiça? Já indagou acerca das ilusões que já teve e quais os modos que você conseguiu sair da falsidade? Será que o pensamento, a reflexão e a razão se desenvolvem do mesmo jeito em todas as pessoas ou será que isso que achamos que nos une é uma farsa? Aqui, neste montante questões, muitas pessoas dedicaram o rigor e o trabalho mais consistente possível para superar os problemas, outras tantas formas de pensar também se desenvolveram com as mesmas questões, utilizando métricas diversas. Como comparar o pensamento da tradição filosófica com outras produções humanas? Só tem um jeito, caso nos colocamos na posição de ter uma vida intelectual, que não ignore os problemas e as incompreensões e engaje na busca pelo saber a filosofia é o único caminho!






A filosofia é uma jornada sem fim, isto significa que mesmo sem ter um fim o caminho permite o percorrer único e com critério para lidar com toda a complexidade da existência, do mundo natural e de nós mesmos. A filosofia não é apenas uma disciplina acadêmica, mas uma forma de vida onde a preocupação com as questões e as respostas que movem a realidade nunca podem ser ignoradas ou diminuídas. Ao refletir sobre as grandes questões da existência, ampliamos nossa compreensão do mundo e de nós mesmos. A jornada filosófica é um convite à autonomia intelectual e à busca por uma vida mais significativa.


Por isso, todas as vezes que você tiver oportunidade, que tal fazer como eu e criar uma condição de defender a importância da filosofia, tornando-a mais valorizada e enriquecendo as compreensões humanas e o nosso desenvolvimento pessoal.


Espero que tenha gostado deste texto e caso possa comente e compartilhe para alcançar o máximo de leitores e leitoras possíveis.


Obrigado pela oportunidade.

Atenciosamente.

domingo, 28 de julho de 2024

COMO A FILOSOFIA É VISTA PELO SENSO COMUM?



Saudações estimados leitores e leitoras.

A filosofia, por vezes, infelizmente, é alvo de diversos preconceitos que limitam sua importância e valor dentro da representação social dos saberes e em perspectiva de contribuição nas transformações que podem melhorar a realidade vigente.

Estas ignorâncias que o senso comum demonstra acerda da filosofia, no sentido estrito do termo, revela tanto um caráter contra a vida intelectual quanto uma matriz de cultura que valoriza um tipo de instrução absolutamente voltada para outras questões que não as definitivamente consagradas pela tradição milenar da razão humana.

Entender o sistema de pensamento que se faz contra a tradição filosófica ajuda a compreender quais são os valores e as defesas que as filosofias procuram ser fiéis. Nesta ocasião, gostaria de trazer para a nossa reflexão estes modos pelos quais o senso comum entende a filosofia para desmistificar e demonstrar as falhas que no geral acusam os filósofos e filósofas.

Alguns dos preconceitos mais comuns contra a tradição filosófica são:

"A filosofia é inútil": Muitas pessoas acreditam que a filosofia é uma atividade intelectual desprovida de aplicações práticas no mundo real, o que é absolutamente falso. Toda a linguagem e tradição filosófica visam entregar para os que se dedicam à área os instrumentos mais adequados para compreender o mundo real e, por sua vez, atuar em tal mundo.

Talvez o mito da inutilidade da filosofia seja tão antigo quanto a própria filosofia, bastando uma breve leitura sobre a biografia dos filósofos em todos os períodos históricos para notar tal preconceito. Entretanto, uma vida intelectualmente ativa demonstrou ao longo da história ser a métrica pela qual as ações humanas reduzem os sofrimentos e barbáries que os homens e mulheres de pouca dedicação ao pensar produziram.

A filosofia exercita o pensamento crítico, a resolução de problemas e a capacidade de argumentar, habilidades essenciais em diversas áreas da vida, ou seja, mesmo para aqueles que não querem dedicar a vida ou carreira ao estudo da tradição filosófica, o estudo dela lhe possibilitaria um exercício muito funcional para o seu próprio campo de atuação.

Por fim, mas não menos importante, a pergunta que cabe diante deste preconceito é: por que algo precisa necessariamente ser útil? É evidente que a utilidade representa uma capacida de resolver determinadas situações, talvez para objetos tal necessidade seja necessária, por exemplo para um martelo é necessário a sua utilidade para garantir a sua existência. Mas, para um humano, qual seria a utilidade que uma pessoa deve possuir? Ele ou ela não pode simplesmente ser a si mesmos (as)?

"A filosofia é muito difícil": Dos mesmos criadores do "quero saber o que tem dentro de um livro sem lê-lo", criou-se o mito da dificuldade exacerbada da tradição filosófica. 

O senso comum associa a filosofia a conceitos abstratos e complexos, inacessíveis à maioria das pessoas. Essa visão, porém, é um equívoco. A filosofia pode ser abordada de diferentes níveis e é uma ferramenta poderosa para entender a nós mesmos e o mundo ao nosso redor. Como qualquer tradição que por longo tempo desenvolve a si mesma, a qualidade e a complexidade exige que os participantes tenham "repertório" que lhes integre nas discussões mais elevadas. Ou seja, é previsível que ao acumular certo nível de complexidade aqueles que vão ingressar na tradição precisem passar por uma instrução anterior para conseguir interagir com os objetos mais desenvolvidos de uma área de conhecimento, isto não é exclusivo da filosofia e nem pressupõe que apenas pessoas inteligentes possam participar. Todos que realizam o esforço de compreender a tradição saberá se colocar diante dela. Todos que não realizam o esforço de estudo não compreenderão os discursos embasados na tradição. 

"A filosofia é coisa do passado": A filosofia é frequentemente associada a pensadores antigos, como Sócrates e Platão, o que leva à ideia de que ela é uma disciplina ultrapassada. No entanto, a filosofia continua a ser relevante e a gerar novas ideias e debates. Desde que passamos a registrar de forma escrita a tradição filosófica, por volta do século VII antes de Cristo até o nosso tempo, não houve em nenhum momento lacunas de produção filosófica, por isso, restringir a filosofia à Antiguidade é apenas desconsiderar a maior e mais ampla parte de desenvolvimento da filosofia.

Ainda, é preciso considerar que muitos povos, especialmente os não ocidentais, utilizaram e utilizam outros modos de produzir tradições que podem se associar ao que no ocidente se fixou como filosofia. Em suma, essa visão que a filosofia só existiu na Grécia Antiga com os chamados pensadores clássicos é um erro enorme que precisa ser combatido. Para colocar uma certa métrica que você, estimado leitor e leitora, possa se localizar, basta pesquisar acerca de Filosofia Antiga, Filosofia Medieval, Filosofia Moderna e Filosofia Contemporânea. Mas, também pode pesquisar em termos de tempos e localidades, tal como a filosofia chinesa de Confúcio, ou a filosofia do oriente médio com Avicena, ou sobre filosofias brasileiras, ou filosofias de qualquer que seja a sua curiosidade. Seja qual for a sua área de interesse tenho absoluta certeza que alguém, em algum tempo, produziu alguma contribuição filosófica a respeito. 

"A filosofia não tem respostas": Muitas pessoas acreditam que a filosofia se baseia em perguntas sem respostas definitivas. Embora a filosofia explore questões complexas e muitas vezes não tenha respostas absolutas, ela oferece ferramentas para pensar criticamente sobre essas questões e encontrar soluções criativas e estritamente racionais.

Toda e qualquer pergunta levantada pela tradição filosófica trouxe consigo uma resposta. Esse sistema de questionamento e buscas por respostas são duas partes de um único movimento, a filosofia. A verdade não é relativa em sentido de acreditar num sistemas de opiniões, a verdade e o conhecimento são determinados pelo nível de dedicação e criticidade para enfrentar as questões da existência humana e natural.

"A filosofia é elitista": Há quem acredite que a filosofia é uma atividade reservada a um grupo seleto de pessoas com alto nível de inteligência. No entanto, a filosofia é uma busca universal por conhecimento e compreensão, acessível a todos que se interessam pelo assunto.

É importante ressaltar que esses preconceitos são infundados e limitam a compreensão da importância da filosofia. Ao questionar nossas crenças e a realidade ao nosso redor, a filosofia nos ajuda a construir uma vida mais significativa e a tomar decisões mais conscientes. Talvez o pensamento filosófico ainda tenha muito para fazer, mas, uma coisa que é fato é: todos deveriam estudar mais filosofia.

Há alguns anos defendo um pequeno lema, "Por uma vida pensada e por um pensamento vivo". Este pequeno lema, no meu entender, é o que de melhor a filosofia pode oferecer para todos nós. Talvez a vida seja mistério, talvez miséria, talvez grandesa e previsível, no entanto, fato é que precisamos da coragem para compreendê-la e vivê-la!

Espero que gostem deste texto. Deixe seu comentário, sua curtida ou compartilhe para apoiar o nosso projeto!

Atenciosamente. 

Ler não é estudar, mas pode ser com o uso de técnicas

Muitas pessoas confundem ler com estudar. Embora existam vínculos e vivências muito próximas, a leitura e o estudo funcionam de formas difer...