quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Para não esquecer no dia das crianças



Saudações estimados (as).

Dia 12 de outubro, popularmente comemorado em terras brasileiras o dia das crianças e o dia da padroeira católica Nossa Senhora de Aparecida. De modo geral as pessoas utilizam o feriado para descansar, aproveitar suas famílias - nas mais variadas acepções que esta categoria pode assumir na realidade.

Neste ano de 2023 é evidente que enchemos nossas vidas de alegria, de brincadeiras e de boas experiências, mas, é impossível passar despercebido pelas crianças que infelizmente não terão brincadeiras, alegria e boas experiências. Precisamos, no caso de nosso "coração" estar no lugar certo, pensar e sensibilizar por todas as crianças que estão na miséria, estão vulneráveis, estão em meio aos tiros e bombas de guerras. Se as crianças que estão ao seu redor vivem as oportunidades de ser crianças, aproveite, faça o melhor para elas, mas, o que faremos para as que não estão nestas condições? 

O que faremos com as crianças que sofrem? Para tentar promover a nossa reflexão e talvez ação, gostaria de contar brevemente algumas histórias que tem latejado em minha mente, talvez seja uma boa ocasião para mais alguém. 

A primeira história que em todo dia das crianças lembro é uma que vivi na escola, nos primeiros dias de meu início na carreira, em 2012. Na escola, é usual fazer alguma atividade especial em comemoração ao dia das crianças. Neste mesmo dia, notei, por acaso ou atenção do olhar devido a atividade, uma criança com o rosto triste, uma criança que tinha no máximo 10 anos, mas o rosto e a pele pareciam exaustos, a roupa, um uniforme escolar, tentava parecer arrumado, mas, o tempo dele e o desgaste mostravam a verdade. A vida que queremos para nossas crianças não são as que elas tem.

A segunda história que sempre lembro, foi mais recente, não lembro ao certo o ano, mas brincando com alguns alunos do ensino médio, adolescentes que não queriam ser chamados de crianças, um menino olhou com uma seriedade madura e disse que não cabia mais para ele ser chamado de criança. Perguntei o porquê. No meio de um pequeno grupo ele disse: eu sou o "homem da casa", contou as dificuldades dos responsáveis com álcool e o como ele precisava ajudar a manter as coisas básicas da casa, a comida mesmo. Ele tinha quinze anos e se sentia responsável por seus responsáveis.

A terceira história, eu vi fora da escola, na rua, uma criança que tinha certamente menos de dez anos, estava recolhendo latinhas e, enquanto "catava", brincava de chutar uma das latinhas amassadas. Em um dos chutes a lata passou entre duas pernas de ferro de uma lixeira e a criança gritou com um enorme sorriso: gol! Mas, um homem, aparentemente pai da criança, chamou a atenção de imediato, disse algo como "para de brincar".

A quarta história, é de uma criança que vi na região central de São Paulo, acho que foi a primeira vez que vi com meus próprios olhos, coberta com uma espécie de coberta térmica que parece uma lâmina de papel alumínio. Curiosamente a minha cabeça viu aquela criança dormindo no chão, coberta com este "alumínio" e pensou naquelas cenas de filme que quando a polícia encontra um corpo sem vida na rua cobria com material similar. Não era o caso, mas, desde então quando vejo esta situação penso, como é possível ver esta cena e não pensar em como a miséria de deixar ao relento, dormindo no chão sujo, em região que milhares de pessoas passam, um corpo imóvel, de criança, coberto desta maneira grosseira e funcional, e não associar que esta criança esta fadada a uma curta vida?

A quinta história, e última neste texto, vi pelo telejornal, por algum motivo passamos a ver notícias de guerra em formato oficial e em cenas de guerra em lugares que se recusam a oficializar, como em nosso país que tem índices de óbito maiores que muitas guerras oficiais. Os câmeras, exercendo seu ofício, registram os corpos multilados, corpos feridos, corpos desnutridos e fracos pela dor e pela fome.

Por algum motivo, estas histórias, e poderíamos contar tantas outras ainda, não é a da minha família, tive uma infância que apesar de dificuldades foi "recheada" de amor fraternal e de possibilidades para sorrir. Mesmo não sendo vivido por mim os sofrimentos das crianças que narrei, ainda hoje tenho enorme dificuldade de aceitar que elas possam existir desta forma.

Hoje, adulto, para as crianças que posso conviver, tentamos criar um ambiente que achamos ideial, de proporcionar carinho fraterno mesmo em meio a dificuldades, através de solidariedade afetar as crianças que conseguimos apoiar. Tentamos na nossa capacidade de afetar, produzir oportunidades de passar por esta etapa da vida com algum grau de ludicidade para poder sonhar e com apoio para lidar com a realidade. Mas, reconhecemos nossas limitações.

Por fim, hoje e no nosso cotidiano tentamos afetar positivamente o mundo ao nosso redor, mas isso é o bastante? Será que não há formas de ampliar a nossa capacidade de afetar as crianças para que elas tenham condições de vida melhores?

É com esta reflexão que gostaria que ao menos por alguns instantes as pessoas dediquem seu tempo. Aos que por algum motivo tem melhores condições, mesmo que longe da riqueza, podemos fechar os olhos para o sofrimento de tantos? Estas são palavras para não esquecer neste dia das crianças que existem pessoas sofrendo e precisando de nós. 

Atenciosamente.

10 comentários:

  1. Muito lindo......adorei....👏👏👏👏

    ResponderExcluir
  2. Realidade que faz parte do nosso cotidiano 😔

    ResponderExcluir
  3. Como sempre, cirúrgico! Houve partes que não consegui ler, passei rapidamente para próxima frase. Se dói como leitora, imagina quem viu e principalmente quem vivencia. Como mãe, isso me pega ainda mais forte. Que possamos fazer algo pelo menos ao nosso redor e ter isso em mente já é um passo. Parabéns, Z...Ricardo! :)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Faremos sim... sempre faremos pelos outros. Tenho certeza que vamos melhorar este mundo.

      Excluir
  4. Só existe um caminho: EDUCAÇÃO

    ResponderExcluir

Ler não é estudar, mas pode ser com o uso de técnicas

Muitas pessoas confundem ler com estudar. Embora existam vínculos e vivências muito próximas, a leitura e o estudo funcionam de formas difer...