domingo, 19 de julho de 2020

A política personalizada ou partidarizada prejudica o enfrentamento de crises sociais

Saudações nobres amigos, amigas e amigxs.


Tenho refletido bastante sobre o nosso modelo de realização político, o sistema de federalização, nosso republicanismo frouxo, nossa democracia representativa e nossa divisão de poderes muitas vezes esquizofrênica.


Todas as estruturas de funcionamento de nossa realização política possuem potenciais fecundos, no entanto, na história de nossas repúblicas onde supostamente o povo adquiriu uma posição real, menos ou mais intensas, tem sido revelado uma estrutura com aparência de permanente centralização de poder em figuras ora da personalidade, ora da partidarização.


Talvez um fenômeno que seja passível de investigação permanente para quem estuda política seja a enorme dificuldade de realização de estabilidade estrutural e estabilidade social de um povo. É claro que a estabilidade é o ideal de qualquer ação política, uma vez que ela seria o sintoma da capacidade de acomodar sob uma determinada ordem as demandas de funcionamento da vida coletiva.


As instabilidades sociais tem origens internas em determinados momentos históricos, uma vez que é possível e real a utilização da ferramenta política para oprimir o próprio povo. Outras vezes a instabilidade tem sua origem externa ao coletivo que forma um povo, tal como a epidemia que vivemos hoje, ou crises econômicas que vivemos recentemente.


O descrédito ao funcionamento da máquina pública que podemos observar em nosso país atualmente revela algum erro nas tomadas de decisões que realizamos ao construir este modelo de Estado, ao construir este modelo de realização de poder.


Indagando sobre quais os elementos que estão se manifestando como agravantes de nossa atual crise, dois fenômenos saltaram diante do meu entendimento.


Em primeiro lugar, desde o último processo de democratização nós brasileiros personalizamos valores, ideais, crenças, em figuras políticas que tiveram êxito em ganhar o reconhecimento público por representarem tais "virtudes" desejadas pelo povo. Obviamente, por se tratar de figuras e personalidades tal poder sempre terá resistência para se realizar, porque representa um projeto nítido que nunca será capaz de atender a expectativa de uma sociedade tão complexa como a nossa. Sendo assim, as avaliações dos governantes encontra contradições interpretativas em todo momento.


Em segundo lugar, escolhemos utilizar o sistema partidário para representar o conjunto de valores e crenças múltiplos de nossa sociedade, então, supostamente os partidos existentes correspondem a segmentos ou grupos sociais que atendem as expectativas do povo. O sistema partidário não é um problema, mas quando olhamos de perto a sua realização em nosso Estado brasileiro, notamos uma frouxidão dos valores representados por cada partido, vemos negociatas que mais parecem trocas de favores do que realização democrática da política. 


Enfim, nesses tempos de crise fica muito evidente que as tomadas de decisão tem sido personalizadas e partidarizadas. O presidente da nação tem um posicionamento, os governadorxs de cada Estado possuem seus próprios posicionamentos, os prefeitxs possuem seus próprios posicionamentos, o judiciário possui seu próprio posicionamento, o legislativo possui seu próprio posicionamento, os partidos possuem seus próprios posicionamentos. Então, a tarefa política mais nobre que pode haver agora é: como articular todos os posicionamentos em nome da nação?


Caso não pensemos em como articular verdadeiramente todas as posições continuaremos nesta esfera de conflito e instabilidade política que enfrenta uma instabilidade social, que por sua vez enfrenta uma instabilidade de saúde com impactos em todas as demais esferas da vida.


É preciso entender que as decisões numa democracia são responsabilidades de todos e suas consequências afetarão todos. Sinceramente, não parece que é hora de campanha eleitoral, parece que é hora de todos nós engajarmos-nos em todas as decisões para não sermos massacrados por personalidades ou partidos. O que está em jogo é a nossa democracia, o que está em jogo é a nossa sociedade, o que está em jogo é o nosso direito de exercer o nosso próprio poder como cidadão.


A nossa omissão custará muito caro: um futuro de glorificação de governantes ou poderosos que tomaram decisões aparentemente certas e aniquilação dos que tomaram decisões aparentemente erradas. A aniquilação da diversidade dos posicionamentos é a ruína da democracia.


Parece que só podemos fazer uma coisa para lutar pelo desenvolvimento democrático de nossa sociedade: participar das decisões e trabalhar para o coletivo. Não seria esta a noção mais básica de uma República Federativa Democrática?

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