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sexta-feira, 25 de outubro de 2024

"Quando tudo for privado, seremos privados de tudo": Uma crítica à privatização do bem e do serviço público


Saudações fraternas.

A privatização dos chamados bens e serviços públicos é um tema que permeia discussões econômicas, sociais e políticas ao redor de todo o mundo, revela-se uma questão complexa e multifacetada, mas que exige nosso empenho e atuação cidadã - especialmente porquê envolvem questões da realidade imediata, do acesso ou restrição à determinadas condições e acerca do futuro de quem acessará ou não estas determinadas condições.

À medida em que governos buscam soluções para problemas financeiros de caixa, disputas ideológicas ocorrem no seio da sociedade civil e supostamente todos tentam melhorar a eficiência dos serviços que chegam a cada cidadão ou consumidor - mesmo sabendo a problemática de utilizar o termo cidadão e consumidor lado a lado aqui, parece-nos necessário para o efeito do sentido da reflexão proposta -, a venda de ativos públicos, que podem ser bens ou serviços, torna-se uma alternativa atrativa para um setor da sociedade e um objeto de luta por outro. 

Essa estratégia, vender os chamados ativos públicos, pode gerar consequências profundas sobre a sociedade. A frase "quando tudo for privado, seremos privados de tudo" encapsula a essência de uma crítica que se intensifica à medida que a privatização avança, levantando questionamentos sobre a natureza do acesso e do direito aos bens essenciais - especialmente em condições onde o neoliberalismo vigora.

📌 O que está em jogo na privatização?

A privatização, em essência, envolve a transferência de bens e serviços do domínio público para a iniciativa privada. Mas, quem são os agentes físicos e jurídicos que são considerados membros da "iniciativa privada"? Quais os interesses que representam e qual o grau de responsabilidade que possuem para lidar com os bens e serviços de domínio público?

Essa proposta de mudança para a privatização, muitas vezes justificada pela promessa de maior eficiência e redução de custos, esconde uma realidade mais sombria. O acesso a serviços básicos, como saúde, educação e segurança, nos limites de todos os instrumentos existentes e os que ainda faltam, torna-se uma questão de capacidade financeira nos casos de privatização, em vez de um direito garantido a todos. Por exemplo, em países que adotaram políticas de privatização em larga escala, observou-se um aumento nas disparidades sociais. O setor privado, focado em lucro, tende a priorizar áreas que oferecem retorno financeiro, enquanto regiões marginalizadas podem ser deixadas de lado, criando um abismo entre classes sociais. Para demonstrar estes acontecimentos basta escolher o objeto público privatizado e fazer uma comparação sobre as mudanças provocadas pela desestatização - creio que você, estimado leitor e leitora, poderá fazer estas pesquisas e constatar com seus próprios critérios.

Ademais, a privatização pode resultar na deterioração da qualidade dos serviços prestados. Quando o objetivo principal é maximizar os lucros, o investimento em infraestrutura, a manutenção e capacitação de profissionais muitas vezes são negligenciados. Um exemplo claro é o setor de saúde. Em várias nações que implantaram sistemas de saúde privatizados, a dificuldade de acesso a tratamentos essenciais se tornou uma realidade alarmante. As pessoas se veem forçadas a optar entre a saúde e a ruína financeira, algo que contraria a premissa de que a saúde deve ser um direito universal. E, ainda, isso pode ser vislumbrado em uma grande quantidade de setores, tais como a educação, a segurança pública, o saneamento básico, etc.

📌 Um olhar sobre o impacto social:

O impacto social da privatização não se limita apenas à qualidade dos serviços, mas também se estende à coesão social, ou seja, a quantidade e coesão da unidade social. Quando os bens públicos são privatizados, a sensação de pertencimento e responsabilidade coletiva diminui. A comunidade, antes unida em torno de um bem comum, se fragmenta em interesses individuais e concorrentes, convertendo sem critérios críticos a cidadania em relações de consumo, o cidadão em consumidor. Essa transformação pode levar ao aumento da desconfiança entre os cidadãos e à erosão do capital social, essencial para a construção de uma sociedade saudável e funcional. Um estudo realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) destacou que sociedades com maior coesão social apresentam melhores índices de felicidade e desenvolvimento humano.

Além disso, a privatização pode criar um ciclo vicioso de dependência econômica. Com serviços essenciais dominados por empresas privadas, o governo se vê na posição de regular práticas que muitas vezes favorecem o lucro em detrimento do bem-estar social, ou, ainda, coloca os governos como pagadores das expectativas de lucros como se fossem gastos de manutenção do serviço, uma anomalia que é subsidiar com o dinheiro do Estado os serviços, transferindo diretamente dinheiro público para o privado sob a justificativa de manutenção do interesse social (cobrir quem não pagaria as taxas propostas pelo privado), mas que faz pelo valor imposto pela empresa que envolve a sua meta e expectativa de lucro e não o custo real do serviço ou bem. Um exemplo clássico é a privatização do sistema de água em várias cidades ao redor do mundo. Em muitos casos, as tarifas aumentaram drasticamente, levando comunidades a lutarem por acesso a um recurso que deveria ser universal. A luta por água potável se torna um reflexo da luta por dignidade, evidenciando como a privatização pode transformar um bem essencial em um produto de luxo.

📌 Alternativas à privatização: Enfoque na gestão pública eficiente.

Diante dos desafios impostos pela privatização, surge a necessidade de repensar o papel do Estado na gestão de bens e serviços públicos. A eficácia da gestão pública pode, de fato, proporcionar soluções viáveis sem a necessidade de transferir ativos essenciais para a iniciativa privada. Diversos estudos apontam que modelos de gestão colaborativa e participativa podem resultar em serviços de qualidade superior, com um foco maior nas necessidades da população. A experiência de países que mantém um forte controle estatal sobre recursos naturais, demonstra que é possível conciliar eficiência e responsabilidade social.

Investir em transparência e participação democrática cidadã na gestão pública é fundamental para restaurar a confiança da população. Quando os cidadãos se sentem parte do processo decisório, o engajamento aumenta e, consequentemente, a qualidade dos serviços se eleva. Programas de participação cidadã na gestão de serviços públicos têm mostrado resultados positivos em diversas localidades, promovendo um novo paradigma onde a coletividade e a solidariedade são priorizadas.

📌 Um chamado à ação:

A privatização de bens públicos não é apenas uma questão econômica, mas um dilema ético e social que afeta profundamente a vida de milhões. A frase "quando tudo for privado, seremos privados de tudo" serve como um alerta para a necessidade de repensar nossas prioridades enquanto sociedade. A busca por eficiência não deve se sobrepor ao direito fundamental de acesso a bens e serviços essenciais. É imperativo que se explorem alternativas que enfatizem a gestão pública eficiente, a transparência e a participação cidadã.

A luta por um futuro onde a dignidade humana e o acesso igualitário a recursos essenciais sejam garantidos é uma responsabilidade coletiva. Somente através da conscientização e da ação conjunta poderemos garantir que a privatização não se torne uma barreira ao desenvolvimento social, mas sim um passo em direção a uma sociedade mais justa e equitativa.

Deveras, os exemplos argumentativos deste texto se valem sumariamente de fatos perceptivos pelo senso comum e a vista dos noticiários tradicionais, no entanto, a investigação pode e assume escalas de pesquisa científica-acadêmica. Por se tratar de um primeiro texto deste autor sobre o tema, pareceu-me justo poder partir desta base menos rígida para demonstrar as ideias, os conceitos e os significados envolvidos. Em novas ocasiões o cunho especializado e metodológico serão incorporados - sempre mantendo a preocupação didática explicativa.

E você, pensa com seriedade o tema da privatização ou estatização dos bens e serviços públicos? Entende a necessidade e validade deste debate público e a importância do seu posicionamento neste movimento?

Caso tenha gostado, por gentileza, ajude este projeto. Compartilhe, comente e curta para fortalecer o nosso alcance e promover as melhores virtudes de nosso povo.

Até breve.
Respeitosamente.
Prof. Ricardo

Palavras-chave: Privatização; Gestão Pública; Serviço Público; Eficiência; Transparência; Interesse Social; bem público; ativo público.

terça-feira, 15 de outubro de 2024

15 de Outubro, o dia do professor e da professora - Uma homenagem




Saudações fraternas.

Às pessoas que trabalham a mente e as práticas de crianças, dos jovens e de adultos, às pessoas que inspiram o amor pela aprendizagem e àqueles que buscam justiça e igualdade em um mundo desigual:

Hoje, neste Dia dos Professores, queremos destacar a importância dos educadores que se dedicam à formação crítica e consciente, que lutam com os instrumentos que tem e lutam por condições melhores que as atuais. Vocês são símbolos da sabedoria, os difusores da cultura, os defensores da justiça social, as linhas de frente das resistências dos valores coerentes da tradição, os faróis para a transformação progressiva dos pré-conceitos e luz que ilumina a escuridão da ignorância. 

A educação, como instrumento de transformação social, é fundamental para criar uma sociedade mais igualitária e justa para cada um e para todos. Vocês, mestras e mestres, ajudam a despertar a consciência dos educandos sobre as estruturas sociais, econômicas, culturais, epistêmicas e científicas que os afetam.

Vocês são os líderes de uma geração que busca mudar o mundo. Ao ensinar a crítica e a análise, vocês ajudam os educandos a questionar a realidade e a buscar soluções para os problemas da vida e os sociais.

Nesse Dia dos Professores, queremos agradecer a todos os educadores e educadoras que se dedicam à formação dos Outros. Seus esforços são fundamentais para criar uma sociedade mais justa e igualitária. Seus esforços nos levam para que cada um e todos sejam os autores (as) do seu próprio destino. Seus esforços são para que o povo assuma sua responsabilidade e seu protagonismo na história. 

Por favor, continue a ensinar, a inspirar e a transformar. A educação é a chave para a mudança social, e vocês são os guardiões dessa chave.

Até breve.
Respeitosamente.
Prof. Ricardo 

#homenagemaosprofessores #homenagemasprofessoras #diadoprofessor #diadaprofessora 

domingo, 19 de maio de 2024

“Um dia de Domingo”: sobre amar alguém ou sobre amar viver


Saudações estimados leitores e estimadas leitoras. 

Talvez você já tenha ouvido alguma vez a música “Um dia de domingo”, especialmente imortalizada em nossa cultura brasileira graças a fantástica interpretação de Tim Maia e Gal Costa no Álbum: Bem Bom: Ano de Lançamento: 1985 Gravadora: RCA Victor. 

A canção “Um Dia de Domingo” é uma composição de Michael Sullivan e Paulo Massadas, gravada inicialmente como um dueto por Tim Maia e Gal Costa no álbum “Bem Bom”, de 1985. A ideia de reunir as duas vozes foi do produtor Miguel Plopschi. A música alcançou grande sucesso, tornando-se um dos maiores hits da carreira de ambos os artistas, e fez sucesso também na América Latina e em Portugal, mas, sem dúvidas, tornou-se um clássico genuinamente brasileiro. 

A canção “Um Dia de Domingo” é uma expressão lírica que evoca a intensidade e a profundidade dos sentimentos humanos compartilhados em um dia que é tradicionalmente reservado para o descanso e a reflexão, relacionando modos e atividades da vida moderna. A letra sugere uma necessidade profunda de conexão e comunicação, enfatizando o desejo de estar perto de alguém especial e de compartilhar momentos significativos, fato que talvez seja ainda mais latente de reflexão para nós que vivemos nos tempos de ampliação da tecnologia nas relações sociais, na transformação dos modos de trabalhar e nos modos como as configurações afetivas se colocam.

A música começa com um apelo quase urgente para falar e encontrar-se “de qualquer jeito”, o que pode ser interpretado como a importância de superar obstáculos para estar com a pessoa amada. O “andar de encontro ao vento” simboliza a liberdade e a espontaneidade que o amor pode trazer para a vida das pessoas. A repetição do desejo de “respirar o mesmo ar” e ter “o mesmo sol” na pele reflete a vontade de uma união tão íntima que as fronteiras entre o eu e o outro se tornam indistintas. Essa ideia é reforçada pela escolha de palavras que expressam uma fusão de experiências sensoriais, como se a proximidade física pudesse de alguma forma fundir duas almas em uma só.

Em suma, “Um Dia de Domingo” é uma ode à conexão humana, ao amor e à necessidade visceral de compartilhar a vida com outra pessoa. A música captura a profundidade de um desejo humano de intimidade e companheirismo, ressoando com ouvintes que se identificam com a busca por esses sentimentos atemporais. Mas, embora pudéssemos ficar glosando sobre a complexidade e profundidade desta música, talvez esta mediação não seja necessária, uma vez que toda estética poética se encontra no próprio objeto de nossa análise. Sendo assim, gostaria de lhe convidar a leitura da própria canção, em sua íntegra e ao final a brilhantes interpretações de Tim Maia e Gal Costa, que tenho certeza que tocará cada uma das nossas consciências e emoções. 

“UM DIA DE DOMINGO”
Eu preciso te falar 
Te encontrar de qualquer jeito 
Pra sentar e conversar 
Depois andar De encontro ao vento...

Eu preciso respirar 
O mesmo ar que te rodeia
E na pele quero ter 
O mesmo sol que te bronzeia...

Eu preciso te tocar 
E outra vez te ver sorrindo 
Te encontrar num sonho lindo...

Já não dá mais pra viver 
Um sentimento sem sentido 
Eu preciso descobrir 
A emoção de estar contigo… 

Ver o sol amanhecer 
E ver a vida acontecer
Como um dia de domingo... 

Faz de conta que ainda é cedo 
Tudo vai ficar
Por conta da emoção 
Faz de conta que ainda é cedo 
E deixar falar A voz do coração… 

(Extraído de https://www.vagalume.com.br/ana-carolina/um-dia-de-domingo.html , visualizado em 19/05/2024). 

 Para acessar a canção no YouTube, sugiro o vídeo da interpretação de 2013 de Gal Costa, disponível em: Clique Aqui

Para acessar a canção na voz de Tim Maia, no Spotify, clique no link: Clique Aqui 

Independente de por onde você vai acessar a canção, escute, reflita e aproveite a maravilhosa experiência. Espero que gostem e que a breve reflexão proposta neste texto ajude a sua fruição. 


Até breve. 
Atenciosamente/Respeitosamente.
Prof. Ricardo de Jesus Lopes

domingo, 15 de outubro de 2023

Aos mestres, com muito carinho


Saudações estimados (as). 

É um prazer inenarrável ter a oportunidade de prestar esta pequena homenagem aos professores e professoras.

Ao longo da vida tive a grata felicidade de conhecer grandes professores e professoras, algumas vezes como meus mestres, outras como colegas valorosos.

Algumas das lições que mais parecem fortes no contato com esta profissão são:

Não existe tempo certo para mudar e se aperfeiçoar, sempre é oportunidade de tentar criar uma vida melhor para nós e para o nosso entorno. 

Quando corrigimos uma vírgula em um texto, um sinal em uma conta, uma ideia num argumento, um procedimento no método, não queremos ser chatos ou intransigentes, queremos mostrar que os detalhes da vida e do conhecimento importam.

Quando valorizamos um pequeno avanço em quem tem muita dificuldade, ou avanços médios, não estamos querendo dizer que é o bastante, estamos querendo dizer que cada passo é importante. 

Quando "brigamos" ou damos sermões, não queremos obediência ou autoritarismo, queremos que cada pessoa entenda a importância de si e de como afeta os outros.

Quando perguntamos se está tudo bem para alguém cabisbaixo, não queremos ser intrometidos ou prepotentes, queremos que cada um saiba que pode contar conosco, ninguém está enfrentando a vida sozinho.

Quando oferecemos um abraço fraterno ou apenas atenção, queremos mostrar que nem sempre teremos vitórias, mas juntos enfrentamos as dificuldades. 

Por fim, professores e professoras são humanos, todos os relacionamentos têm momentos de harmonia e as vezes de crise, mas, não importa o que aconteça, estamos sempre juntos.

Obrigado, professores e professoras que tive o privilégio de ter em minha vida. Obrigado todos os professores e professoras que se dedicam pelos outros, para os outros e para que todos se unam.

Atenciosamente. 


segunda-feira, 26 de junho de 2023

Sinais de nosso tempo: transtorno de ansiedade e depressão



Saudações estimados leitores (as).


Talvez uma grande contribuição que podemos oferecer para as pessoas interessadas em ler o mundo que vivem é oferecer ferramentas para que elas possam compreender os SINAIS DE NOSSO TEMPO, ou seja, tentar expor de modo explícito e numa linguagem simples as principais características de nosso modo de existência. Nesta ocasião a proposta é deliberar um pouco sobre “problemas psicológicos”, especialmente o transtorno de ansiedade e a depressão clínica.


Os problemas psicológicos se tornaram muito comuns e evidentes, especialmente no modo de tratar as questões desta ordem na sociedade atual, e, podem afetar pessoas de todas as idades, gêneros e classes sociais, isto porque a dinâmica de nossa vida tem impelido a uma série de enfrentamentos individuais para demandas amplas, desafiadoras, sistêmicas e estruturais e diante destas circunstâncias os sujeitos acabam nem sempre preparados para o exercício de sua vida, o que parece estar conduzindo o desenvolvimento de “transtornos”, “patologias” ou “doenças”.


Alguns dos problemas psicológicos mais comuns em nossos tempos são: o transtorno de ansiedade, a depressão clínica, anorexia nervosa, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno bipolar, esquizofrenia, transtorno da personalidade borderline e o transtorno dismórfico corporal. Não que tais fenômenos sejam exclusivos de nossos tempos, mas, em nossos tempos lidamos com eles de uma forma especialmente pensada a luz da medicina, da biologia, da sociologia e da psicologia. Deste modo, colocamos no centro de nossa compreensão um jeito específico de tratar tais assuntos. Neste texto, focaremos especialmente no transtorno de ansiedade e na depressão clínica, para não estender demais o texto e para lidar com responsabilidade com os temas, mas, acima de tudo, gostaríamos de propor reflexões que permitam entender de forma crítica os nossos dias.


O transtorno de ansiedade tem se mostrado o sinal psicológico mais comum e afeta milhões de pessoas no Brasil e no mundo. A identificação deste transtorno se dá através dos sintomas que incluem: preocupação excessiva, agitação, inquietação, fadiga, músculos tensos, dificuldades para dormir e ataques de pânico. A descrição dos sintomas feitas anteriormente não possui a finalidade de apoiar um diagnóstico, ao contrário, busque sempre o profissional adequado para isso. O objetivo de expor aqui os sintomas é proporcionar uma reflexão sobre quais as condições que têm impelido as pessoas a desenvolver tais reações. 


O que tem preocupado excessivamente as pessoas? Seriam preocupações de cunho individual ou fruto de fenômenos sociais como conseguir ou manter uma alimentação adequada, alcançar aspectos básicos da vida com dignidade? Ter a segurança da moradia, do emprego, do apoio familiar, do apoio social? A agitação ou inquietação é uma prática valorizada em nossa sociedade? Será que não estamos educando em demasia para a “proatividade”? Ou será que as pessoas que se limitam a desenvolver poucas atividades e desenvolver uma vida pacata são alvo das críticas e do julgamento social negativo? A tenção, a fadiga, os ataques de pânico são proporcionados pelo ambiente que estamos vivendo ou exclusivamente pelo sujeito? Em suma, nas linhas anteriores, as perguntas tiveram a função de expor que o modelo de vida social pode direcionar o sujeito para o desenvolvimento de aspectos ansiosos e talvez levando ao transtorno desta ordem.


O transtorno de ansiedade tem sido tratado como um problema psicológico que pode ser tratado com Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), medicação (prescrita por profissional especializado) ou uma combinação dos dois. Para saber mais sobre estes fenômenos de tratamento busque sempre o apoio de um profissional adequado. Mas, talvez não precisemos, enquanto sociedade, pensar e repensar sobre o modo como conduzimos nossa vida coletiva? Nosso modo de trabalhar? Ou os modos como vivemos nos centros urbanos e nas cidades interioranas?


Já a depressão clínica é um outro fenômeno tratado como problema psicológico que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo. Os sintomas associados a depressão são: uma forma de tristeza persistente, perda de interesse em atividades que antes eram agradáveis, fadiga, alterações no apetite, alterações no sono e pensamentos destrutivos que em última instância chegam ao suicídio.


Assim como no transtorno de ansiedade, a nossa finalidade aqui não é apoiar diagnósticos, é proporcionar a reflexão sobre os temas. Será que o desenvolvimento de quadros clínicos de depressão não está associado ao modo como vivemos coletivamente? Será que nossa sociedade estimula sistematicamente a busca pelo sucesso e por padrões de bem-sucedido que impactam os sujeitos pela incapacidade de alcançar? Será que a perda de interesse pelas coisas ou atividades não está relacionado ao fato de vivermos uma espécie de lógica de consumo onde estamos sempre em busca da última versão dos produtos? Ou, ainda, será que alterações de sono ou alimentares são advindas de maneiras pelas quais as pessoas precisam organizar as suas vidas individuais para atender expectativas impostas pela lógica do trabalho, pela lógica das redes sociais e de formas culturais atualmente dominantes?


O tratamento para a chamada depressão clínica pode incluir a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), medicação (prescrita por profissional adequado) ou a combinação dos dois. Para saber mais sobre estes fenômenos de tratamento busque sempre o apoio de um profissional adequado. Mas, novamente, talvez não precisemos, enquanto sociedade, pensar e repensar sobre o modo como conduzimos nossa vida coletiva? Nosso modo de trabalhar? Ou os modos como vivemos nos centros urbanos e nas cidades interioranas?


Por fim, o que podemos extrair da existência destes dois “sintomas”? Os sinais do transtorno de ansiedade e da depressão clínica não seria a manifestação que o indivíduo está precisando lidar só com as dinâmicas gerais da existência humana? Somos seres solitários? Precisamos lidar de forma solitária com a existência?


Espero que você tenha gostado e, caso possa, ajude no desenvolvimento desta reflexão comentando, criticando ou compartilhando este texto.


Desde já, agradeço sua generosidade.

Atenciosamente

sábado, 17 de junho de 2023

Crítica à Base Nacional Comum Curricular – BNCC (Parte I)

 


Saudações estimados leitores (as).


A educação brasileira sempre é um assunto extremamente falado no cotidiano de todas as pessoas, mas, muito pouco se fala de forma sistemática, embasada e crítica. As pessoas, de modo geral, têm pouquíssima clareza sobre qual a função da escola, sobre o que é o currículo, para que ele serve e qual o seu impacto na cultura. Talvez as manifestações mais enfáticas sobre o chamado Novo Ensino Médio (NEM) possa ser uma oportunidade para ampliar a discussão pública entorno das escolas, dos objetivos da educação básica e de como este assunto é importante para o desenvolvimento da nação.


Mas, não podemos compreender o Novo Ensino Médio (NEM) e perder de vista que é preciso compreender toda a mudança proposta para a Educação Básica, que sofreu uma recente transformação graças ao que ficou chamado como Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Este documento promulgado durante o governo federal de Michel Temer e que entrou em vigor em 2019 estabeleceu profundas mudanças na educação básica e afeta diretamente a formação de todos os jovens em idade escolar desde 2019, mas, o que você sabe sobre estes acontecimentos? Você sabe para quais caminhos estão direcionados os esforços da educação brasileira?


Para tentar contribuir sobre o entendimento acerca da educação brasileira esta série de artigos procurará esclarecer a realidade que está se colocando diante das recentes mudanças.


A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento normativo que estabelece as competências e as habilidades que cada estudante deve desenvolver em cada etapa, em cada série, em cada idade, no que diz respeito aos planos estratégicos que estruturam a educação básica. Embora ela tenha sido criada com o objetivo de melhorar a qualidade da educação básica de nosso país, a Base, desde seu surgimento, ainda na esfera da proposta, tem sido alvo de críticas por parte de educadores, especialistas e movimentos sociais que se posicionaram diante a situação.


Quando proposto no contexto do governo federal de Dilma Rousseff em 2014 a proposta mostra uma potencialidade enorme, buscava ser um documento coletivo, construído democraticamente com o apoio profissional e social. No entanto, a partir do dia 31 de agosto de 2016, tal Base passou por uma significativa diferença no modelo de sua construção. Com as mudanças, os textos que viraram normativos perderem a participação popular e se tornaram instrumento de um determinado viés educacional especialmente associado a um neoliberalismo proposto através da adequação a um especial documento internacional que é citado nas primeiras páginas do documento final da Base Nacional Comum Curricular.


Dentre os problemas que estão constantemente sendo levantados pela sociedade contra a chamada Base Nacional Comum Curricular estão: 


1. Uma falta de exatidão ou um esvaziamento do que está sendo definido como competência e habilidade, conceitos que são simplesmente o cerne e ponto mais importante de um documento desta ordem, uma vez que todas as derivações e processos são propostas para o desenvolvimento de competências e habilidades.


2. Uma sobrecarga de conteúdos, uma vez que o cerne da Base está direcionado para o desenvolvimento de competências e habilidades houve um nítido problema no modo pelo qual se inserem os conteúdos que devem ser ensinados como instrumentos em que se sustentam as aplicações de raciocínios, práticas, competências e habilidades. Todos os procedimentos mentais, ou cognitivos, são ações sobre um determinado objeto, que pode ser chamado de conteúdo, e o descaso dado aos conteúdos que devem ser BÁSICOS na escolarização inviabilizam utilizar tal documento como instrumento de alicerce para o planejamento do ensino. Mas, qual é a função de um documento normativo como este se não estabelecer bases para o planejamento do ensino?


3. Ao mesmo tempo que estabelece um certo discurso vazio, a Base Nacional Comum Curricular consegue demonstrar uma falta de flexibilidade para a adaptação às realidades locais, uma vez que seu direcionamento é explicitamente dedicado ao modelo de vida urbano em larga escala e que possui uma direção na compreensão do desenvolvimento educacional em aspectos de produção e consumo sob uma espécie de égide de cultura empreendedora, bastante específica e direcionada, coisa que de muitas maneiras precisam ser problematizadas por sua capacidade de ter aderência na realidade vigente.


4. Sendo uma proposta dentro de uma estrutura estatal democrática esperava-se, dada o tamanho da transformação, que os agentes envolvidos diretamente e a sociedade civil fossem incluídas de maneira séria e decisiva. No entanto, houve ausência de diálogo com os profissionais e as instituições durante a elaboração do documento o que por consequência levou a uma crise durante o processo de implementação que gerou até a necessidade de adiamento e revisão no ano vigente de 2023.


5. É preciso reconhecer que faltou recursos para a implementação da Base Nacional Comum Curricular. Desde seu início de implementação em 2019 quais foram os esforços, recursos e políticas públicas destinadas ao desenvolvimento da Base Nacional Comum Curricular? Se o modelo anterior trazia problemas, como produzir um novo modelo em concomitância sem incluir nenhum novo recurso?


6. Diante das propostas por vezes esvaziadas, por vezes inadequadas, como é possível avaliar o desenvolvimento de competências e habilidades desenvolvidas pelos discentes? O êxito dos processos de ensino e aprendizagem são medidos mediante avaliação, mas, além disso, os processos de acesso ao ensino superior e ao mundo do trabalho envolvem seleção de qualificação demonstrada pela capacidade de demonstrar domínio do nível de aprendizagem que o jovem deveria estar. Neste 2023 já veremos uma primeira crise neste sentido: como os jovens que fazem o Novo Ensino Médio, baseado na Base Nacional Comum Curricular, se os vestibulares e o ENEM ainda não modificaram integralmente a sua estrutura para este novo documento normativo?


7. Tratando-se de uma Base NACIONAL Comum Curricular esperava-se que uma política nacional de formação continuada para professores (as) fosse amplamente realizada e que os processos tivessem alguma métrica para manter todos os Estados da federação em um caminho uniforme, no entanto, qual foi a política pública que garantiu tal realização? Quais foram as ações que promoveram um bom desenvolvimento para a implementação da Base Nacional Comum Curricular?


8. Apesar de muito se falar em uma educação para o futuro a realidade é que falta investimento para a infraestrutura escolar. Gostaríamos de estar discutindo qual ou quais as melhores ferramentas que as escolas deveriam utilizar para desenvolver o ensino e a aprendizagem com qualidade, no entanto, precisamos reconhecer que atualmente a realidade é que as estruturas físicas das escolas são inadequadas, a maioria dos prédios incapazes de comportar aspectos básicos de dignidade humana.


9. Ainda, os últimos anos de governo federal foram marcados em várias ordens de procedimentos que desvalorizavam os professores (as), especialmente de instituições públicas. É preciso reconhecer a valorização dos profissionais da educação como política pública que garante a qualidade das instituições. O salário adequado, o acesso a formação continuada, o acesso a bens culturais etc.


10. Caso ainda não esteja convencido dos muitos problemas que estamos enfrentando na educação brasileira, talvez uma última questão pode ser útil: diante da falta de estrutura, de clareza e de crises de implementação, como avaliar o êxito da Base Nacional Comum Curricular? Se o modo de verificar os problemas fadar uma multidão à falta de acesso a educação, a transformação valeu a pena? Não seria melhor investir e qualificar a progressão de melhoria do sistema anterior? Em caso de êxito, como seremos capazes de reconhecer as causas de melhoria se não há clareza nas práticas que estão em vigência?


Os problemas apresentados até aqui são graves e não podem ser negligenciados. O governo de Lula em seu primeiro ano, em 2023, demonstrou esforço para lidar com as problemáticas. Mas, ainda há muito o que fazer e somente com o envolvimento social poderemos construir uma educação democrática de qualidade. 


A função da Base Nacional Comum Curricular é melhorar a qualidade da educação básica do país. Sendo assim, é preciso estabelecer clareza nas definições, especialmente do que estamos desenvolvendo, as competências e habilidades. Não podemos sujeitar a interpretações equivocadas que são desenvolvidas pela multiplicidade de políticas públicas em âmbito federal, estadual e municipal, a organização da educação brasileira, divisão prevista pela Constituição de 1988. Não podemos prejudicar os estudantes pelas falhas normativas e nem responsabilizar os professores (as). Cada agente social precisa se responsabilizar por seu campo de atuação e a nós, enquanto cidadãos, precisamos atuar para que cada instância exerça sua função para a formação de nossos jovens, adultos e idosos para que o futuro da nação esteja alinhado com nossas escolhas. Não podemos sucumbir a respostas simplistas inadequadas, nem a sobrecarga que inviabiliza a prática cotidiana. Não podemos tratar superficialmente a educação básica brasileira.


Em suma, a Base Nacional Comum Curricular é um documento normativo muito importante e por isso precisamos trabalhar para melhorar a sua qualidade, que por consequência é desenvolver práticas escolares com melhor qualidade e que levará ao aperfeiçoamento do ensino e da aprendizagem do país, o que afeta diretamente àqueles que estão nas estruturas formativas. Os problemas precisam ser apontados, debatidos, democraticamente desenvolvidos e fomentados como políticas públicas federal, estadual e municipal, conforme sua natureza burocrática.


Neste momento, tratamos de modo introdutório, mas, este é o primeiro texto dos estudos sobre educação brasileira que serão desenvolvidos. Por isso, caso possa, acompanhe esta jornada e juntos vamos construir caminhos para a melhoria da educação!


Até breve!


[Gostou deste texto ou tem alguma crítica? Comente, compartilhe e ajude este trabalho feito com muito carinho. Juntos podemos chegar mais longe!]

segunda-feira, 12 de junho de 2023

Uma introdução aos rumos do mundo do trabalho nas próximas décadas (Parte I)

 


Saudações estimados leitores (as).


É preciso reconhecer a realidade atual que aparentemente caminha em direção de mudanças significativas no mundo do trabalho, afinal, é muito importante que todas as pessoas possuam preparação adequada para enfrentar e lidar com as demandas destas novas condições.


De tempos em tempos os veículos de informação tradicionais fazem matérias ou noticiam que determinadas empresas “apostam” em novos modelos de trabalho, ou que voltaram e retomaram modelos mais "tradicionais" de trabalho. Afinal, quais os rumos do trabalho nas próximas décadas?


Talvez não seja possível responder com precisão absoluta a questão proposta, no entanto, é preciso reconhecer que existem subsídios históricos e tendências que permitem inferir alguns conhecimentos sobre o assunto tratado. Dada a complexidade do tema, os resultados das pesquisas realizadas serão publicados em partes e buscará explicitar ideias férteis para compreender o fenômeno de nossa investigação.


Neste primeiro momento talvez seja útil partir de uma espécie de conhecimento comum que já está difundido em nosso tempo. Muitos especialistas alertam de forma veemente pelo menos desde a chamada “Primeira Revolução Industrial” que uma umas das principais transformações no mundo do trabalho estão associadas a automação, ou seja, a substituição de funções realizadas por humanos para tarefas realizadas por tecnologia. Obviamente tal fenômeno produziu e ainda produz – porque a tecnologia continua em desenvolvimento -, a perda de empregos em determinadas áreas ou setores produtivos, mas, ao mesmo tempo, criou trabalhos em áreas que ainda não existiam. De algum modo é preciso reconhecer que a automação possui um duplo caráter, em primeiro lugar uma dimensão de substituição do trabalho humano pelo trabalho realizado por tecnologia (fato que trás consigo uma série de derivações) e, em segundo lugar, possibilitou a criação de empregos associados ao contexto tecnológico (fato que também trouxe consigo uma série de derivações). 


Portanto, até aqui precisamos reconhecer que a automação é um fenômeno muito importante e a sociedade precisa estar alerta para suas consequências que podem envolver o desemprego, a necessidade de formação específica para um novo contexto laboral, a consequência da centralização de riqueza em menos sujeitos - uma vez que o capital humano das indústrias tende a diminuir para ampliar a produção dos bens etc. Por muito tempo se falou em adaptação aos novos tempos, mas, é preciso reconhecer que não se trata de um simples fenômeno adaptativo, trata-se de manifestações sociais e atuações políticas.


Além da automação, outro importante tema relativo ao mundo do trabalho é acerca das mudanças nas profissões que ocorrem ao longo do tempo por mudanças nas dinâmicas de existência. De tempos em tempos por diferentes motivos algumas profissões se tornam obsoletas e outras surgem. Este é mais um motivo para que pessoas, empresas, sociedade e políticas públicas foquem em promover oportunidades para que as pessoas estejam preparadas com habilidades e competências adaptativas. Mas, assim como o adendo feito na automação, é preciso sempre levar em conta que decisões de cunho social são escolhas do povo e por isso não se trata de um processo unilateral de adaptar pessoas para o mercado de trabalho, precisamos adaptar o mercado de trabalho as pessoas também, responsabilizando as empresas com a formação de seu quadro de pessoal para que se mantenham atualizados e ativos, garantindo a totalidade do processo de produção.


Estamos chegando, ao longo desta dissertação, cada vez mais próximos de discutir assuntos mais complexos como os papeis de cada agente social no mundo produtivo, o papel das empresas e indústrias, o papel do trabalho rural, a importância das legislações trabalhistas e dos governos, em suma, da importância de entender o fenômeno do trabalho dentro de outras perspectivas que nem sempre o senso comum possui saber nítido, mas que devem ser tratados em outras ocasiões.


Até aqui podemos concluir que a tecnologia e o tempo histórico possuem um papel fundamental para as mudanças que acontecem no mundo do trabalho e produtivo em geral. A automação, a inteligência artificial, as habilidades e competências para a estrutura produtiva, a condição dos empregados e desempregados, a economia política, enfim, todas as dimensões do fenômeno são relevantes para nos situar com responsabilidade e segurança em nossa existência e na criação das próximas gerações. Por isso, vamos desbravar o universo do trabalho humano.


Até breve!


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quinta-feira, 30 de março de 2023

Cotidiano Mecânico: como trabalhamos?



Saudações fraternas, é um prazer inenarrável ter sua companhia neste texto.


É comum e mecânico. Acordar todos os dias com o despertador, realizar os cuidados higiênicos, tomar o café da manhã, sair para o trabalho, iniciar as suas tarefas laborais, fazer uma pequena pausa para um café, um chá ou uma água, voltar ao trabalho, no horário pré-definido sair para o almoço, tentar descansar alguns minutos antes de retornar ao ofício, reiniciar os afazeres do dia, no meio da tarde fazer mais uma pequena pausa, concluir as expectativas do dia ou reprogramar para continuidade no amanhã, arrumar seus materiais para encerrar seu dia profissional, em seguida rumar para casa, em casa o ambiente exige cuidados para que fiquem garantidos minimamente os seus confortos, talvez dê tempo de você encontrar algum amigo (a/e), você precisa se alimentar e finalmente se preparar para descansar, afinal, o próximo dia demanda tanta energia quanto este. Existem pessoas que vivem de modo mecânico... é uma escolha? Quem pode viver assim? Quem realmente quer viver assim?


Não precisamos de grande esforço de imaginação ou conhecimento sociológico para entender que o modo de vida mecânico narrado acima é uma condição bastante própria daqueles que dedicam ao ofício, ou aquilo que chamamos  normalmente de trabalho, para garantir a sua existência. Mas, igualmente sem requisitos mínimos, conseguimos consolidar a convicção que pessoas que possuem trabalhos mais vulneráveis possuem maior dificuldade para cumprir os seus objetivos diários e precisam sempre que necessário ultrapassar os horários, abrir mão de intervalos, ou de um descanso, ou até mesmo de se alimentar com qualidade, para tentar concluir seu objetivo diário, e mesmo assim, com todos os sacrifícios possíveis ainda existirá quem não consegue chegar até o final do dia tendo o resultado mínimo esperado para a sua vivência básica.


Quem são as pessoas que precisam dedicar a vida para garantir os meios de realização de sua própria existência? Estas pessoas são força produtiva de sua própria condição, sendo assim, elas acessam integralmente os frutos de seu trabalho? Todas as pessoas vivem desta maneira? As pessoas em condições mais vulneráveis que não conseguem produzir o necessário para si, vivem como? Por que existem pessoas que trabalham de domingo a domingo e outras tem jornadas menores e outros tantos da sociedade são inativos? O que é este modelo de vida mecânica que assumimos para nós? Os regulares têm ganhos regulares, os vulneráveis tem ganhos vulneráveis, os inativos tem sua sobrevivência mantida pelos ativos?


Em nosso cotidiano não possuímos muito tempo para pensar, refletir, construir pensamento consistente e crítico sobre estes temas, por isso, gostaria de perguntar a ti: tais questões são relevantes para a nossa vida? Ou seja, os modos pelos quais organizamos os tempos de nossa existência, os nossos esforços e os meios como dividimos com outros os resultados de nosso empenho são temas relevantes para que todas as pessoas tenham consciência e convicções?


Nestes últimos tempos tem aumentado a minha convicção de que o modelo de vida mecânico, um modelo que não tem espaço para o ócio, para o descanso verdadeiro, ou para um lazer qualificado, produz uma incapacidade generalizada de entender e escolher os modos de vida de cada um de nós. “Nossa, mas isso não é nenhuma novidade”, você leitor aguçado me dirá. Saiba que você tem toda razão, quanto tempo sabemos deste problema que enfrentamos? Mas, quando proponho este texto para tocar no assunto, gostaria de provocar você a me responder: mesmo não sendo um assunto novo, quais são as respostas benéficas para a vida que estamos alcançando até este momento de nossa história?


Quando lemos reportagens de países que estão propondo reformas trabalhistas que visam a diminuição das horas trabalhadas e dos tempos destinados para o cuidado de si, para a fruição da cultura, ou para se dedicar a família, pensamos: “aqui no Brasil ainda estamos tão longe disso”. Ainda, embora não seja absoluto, mas circula como pensamento geral, quando se levanta problematizações sobre o funcionamento das organizações econômicas e da divisão social do trabalho a população brasileira entende como um “tema de esquerda”, ou que o modo pelo qual estamos enfrentando esta dinâmica social fosse “natural” (no sentido de ser a única possível). Este é um assunto de esquerda ou diz respeito a todos que trabalham para criar as condições de sua existência?


Para não me alongar neste texto, deixando tempo para que você pense sobre a questão, não está na hora de realizar um grande empenho coletivo para pensar, refletir e transformar as nossas condições de trabalho? Isto que está sendo chamado de “tema da esquerda” não está “demonizando” para inviabilizar um pensamento amplo sobre o tema? Qual é o problema do modo de pensar do que é chamado de “esquerda” no Brasil? Isto que está sendo chamado de única via possível é verdadeiramente a única via? Em suma, nesta breve reflexão gostaria de lhe perguntar, de forma final, como você quer viver e trabalhar?


Precisamos nos dedicar neste tema!


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Atenciosamente.

Professor Ricardo de Jesus Lopes

domingo, 1 de janeiro de 2023

Ano novo, vida nova?


Saudações fraternas.

É bastante comum utilizar o ciclo de calendário anual para representar o fim de uma etapa e o início de uma nova. Talvez existam benefícios psíquicos em proporcionar ao nosso entendimento de si o fim de certas coisas que julgamos como malefícios que queremos romper, outras coisas valorizamos para a manutenção e outras, ainda, deliberamos como foco de desejo, proporcionando certa esperança.

Deveras, este mecanismo psicológico nos proporciona algum grau de autoconhecimento, algum grau de capacidade analítica e algum grau de compreensão do nosso entorno. Mas, o será que este processo que fazemos tradicionalmente perto da virada de ano é o bastante?

Uma questão sempre muito provocativa é: nós temos capacidade de julgar com precisão o que é um verdadeiro malefício para a nossa vida? Quantas vezes pensamos que uma coisa era ruim, mas, algum tempo depois graças a este acontecimento alcançamos algo melhor? Por exemplo, quantas vezes as pessoas ficam frustradas por não conseguir realizar uma viagem que sonhava por questões financeiras e ao se adequar em sua realidade construiu experiências muito felizes? Imagine que você encontrou o amor da sua vida por isso, ou que você pôde passar um tempo de qualidade com um ente que algum tempo depois perdeu, etc. É evidente que estou buscando ilustrar de forma caricata, mas, a ideia tem alternância de níveis.

Em suma, quando avaliamos as situações em que vivemos, é preciso lembrar que além daquilo que conseguimos pensar sobre o momento estão acontecendo outros eventos que embora não estejam sendo pensados, podem influenciar a nossa vida.

Da mesma forma como pensar sobre as coisas “ruins” de nossa vida pode nos enganar, as coisas que valorizamos como bens também não são obviedades.

Como exemplo podemos usar um emprego que é muito valorizado por uma pessoa, ali a pessoa se sente realizada, sente-se fazendo algo especial. Em algum tempo, por corte de despesas ou qualquer outra adversidade, a pessoa é demitida. Com o apoio da família, dos amigos e de pessoas queridas, a pessoa é acolhida e percebe que a vida que valorizava não era o mais importante. A pessoa arruma outro emprego e passa a valorizar não só o seu ofício, mas também as outras relações sociais.

Mais uma vez, embora bem romantizado, apenas procuro indicar que podem haver distorções em nossos entendimentos. Sabendo que nossas capacidades de julgar como negativas ou positivas experiências que vivemos é problemática, precisamos sempre trabalhar para buscar o que verdadeiramente importa e isso não é possível usando apenas as viradas de ano. Precisamos dedicar em nossa vida o mesmo empenho que utilizamos para os assuntos que julgamos mais sérios, porque a vida é o assunto mais relevante, ao que sabemos esta é única.

Afirmar que precisamos levar a vida a sério não significa ter uma vida morna, sem alegria. Ao contrário, quando digo que devemos ter seriedade quero dizer que devemos buscar com afinco a alegria, a felicidade, a satisfação, o bom-senso.

Ao melhorar a nossa capacidade de analisar os bens e males de nossa vida poderemos direcionar a nossa reflexão para o âmbito da esperança, ou seja, sabendo onde estamos, sabemos onde queremos chegar. Esperança não é esperar, esperançar é trabalhar e buscar por condições de existência melhores.

Por fim, estimados leitores e leitoras, desejo uma excelente virada de ano. Desejo que você, assim como eu, possa deliberar sobre a vida o ano todo e que tenhamos capacidades e forças para construir as nossas condições. Esperança.

Feliz ano novo.
Atenciosamente.
Prof. Ricardo de Jesus Lopes

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domingo, 26 de junho de 2022

Educação: para quem? (Parte I)



 

Toda pessoa que já pisou em uma sala de aula em algum momento, de forma mais ou menos consciente, precisou refletir sobre uma questão fundamental: educação, para quem?

 

Esta pergunta se revela especialmente importante porque em muitos sentidos nos faz pensar sobre os objetivos que almejamos alcançar. Vamos juntos pensar sobre isso?

 

Seja sincero, quando você, professor, professora, ou especialista que entra em algum lugar para ensinar, sempre entra na sala de aula pensando que você detém alguma informação, ideia, raciocínio ou conhecimento que pode ser útil para os outros e por isso tais pessoas deveriam prestar atenção em você.

 

Quais seriam essas informações? Não poderiam ser encontradas de outras formas? Por que dependem de você para chegar ao público? Que ideia é essa? Elas não poderiam ser desenvolvidas sem você? Que raciocínios são estes? Eles não poderiam ser alcançados sem sua instrução? Que conhecimentos são esses? Eles não poderiam ser construídos sem a sua docência?

 

De algum modo sabemos, nós que ensinamos algo, que o nosso ofício é especial, não porque é uma informação que só nós temos acesso, não porque nós temos ideias que são exclusivamente nossas e precisam chegar aos outros. Não porque possuímos modos de raciocínios tão sofisticados que só nós podemos ensinar e, definitivamente, não é porque possuímos conhecimentos que só podem ser construídos com o nosso auxílio.

 

Sendo assim, precisamos, todos nós que pretendemos ou exercemos a docência, ter com alguma objetividade diante de nossos olhos, para quem estamos falando. Se estamos apresentando uma informação, é porque de algum modo as pessoas que nos dirigimos não tiveram acesso a tal informação. Por que não tiveram acesso? Agora esta se torna a pergunta mais importante para montar o nosso discurso, afinal, somente assim poderemos planejar a forma adequada de apresentar tal informação e a sua utilidade, serventia ou pertinência para quem dirigimos o nosso empenho.

 

Caso estejamos apresentando uma ideia, precisamos ter muita clareza do porquê as pessoas que estamos apresentando não pensaram de tal forma. Elas puderam fazer parte da tradição desta área que dominamos? Ou será, que elas estão tendo acesso a tradição de uma área de conhecimento através de nossas aulas? Ou ainda, será que os universos culturais destas pessoas estão em relação direta com o objeto que estamos apresentando? E se não estiverem? Por que não estão?

 

Ainda temos o caso da condição de apresentarmos raciocínios e conhecimentos. O que torna ou tornou a nossa condição especial para apresentar um raciocínio como válido ou um conhecimento como verdadeiro? Ou dito de outra forma, o que legitíma que nós nos posicionemos diante de um contingente de pessoas para ensinar algo?

 

Sabemos que neste texto estamos levantando problemas, no entanto, somente perguntando a cada um de nós que se coloca na posição de “ensinantes” podemos compreender para quem estamos lecionando. Somente compreendendo para quem falamos, como falamos e porque falamos, é que poderemos desenvolver um discurso adequado para atingir os nossos objetivos.

 

É óbvio que somente esta esfera de problematização não é o bastante para nos formar sobre a pergunta: para quem ensinamos? A problematização é um primeiro passo para que possamos construir maior consciência, maior deliberação e maior nível epistêmico para enfrentar esta pergunta – que parece muito simples, mas diz muito sobre nós, nossa sociedade e sobre as imagens que fazemos de nós mesmos e dos outros que se relacionam conosco.

 

Em breve traremos mais reflexões.

Atenciosamente.

Prof. Ricardo de Jesus Lopes

 

Observação: Gostou do texto? Ajude-nos compartilhando, comentando ou criticando!


terça-feira, 3 de maio de 2022

Doxa: ou sobre a opinião


Saudações fraternas.

De tempos em tempos notamos com uma nitidez maior que a cosmovisão popular, ou aquilo que pode ser chamado de senso comum, é frágil, simbolicamente confusa, logicamente inconsistente, esteticamente desconfortável, politicamente violento, eticamente problemático e empiricamente causadora de conflitos. Talvez estejamos num destes tempos de nitidez exacerbada.

Nas ruas notamos a alienação, onde cada pessoa se protege em um microuniverso, o universo da individualidade. O diagnóstico do niilismo não é tão recente, mas mesmo assim não conseguimos tornar este assunto a pauta prioritária da reflexão popular. A individualização e as consequências oriundas dela não conseguem pensar a si mesmas nem em momentos de crise profunda. Ainda, é preciso considerar que este sistema de pensamento que valoriza uma individualização se reproduz sob a forma de cultura de massa, ou seja, talvez possamos chamar de suposta individualização.
Nas redes sociais notamos mais uma manifestação da proteção de microuniversos, bolhas de proteção de uma suposta individualidade, que talvez não seja compreendida humanamente, mas, que sem dúvida é base para que os algoritmos trabalhem neste espaço. Tal individualização, novamente, não compreende a si e nem as consequências derivadas dela.

Então, o que fazer?

Seria muita audácia propor uma resposta, se é que ela existe. Mas, sem dúvida existem caminhos a serem percorridos por nossos intelectos.
Muito difundida no senso comum, a opinião tornou-se em muitas instâncias a métrica para a escolha. Mais de uma vez a esfera da discussão e do debate se converteram em uma exposição desconexa de comentários pessoais e momentaneamente válidos. Neste modo de operação, criamos uma cultura das narrativas individualizadas, das opiniões que tentam se consolidar através da autoridade social, ou da relatividade como justificativa para nossa insuficiência de capacidade intelectual.

As opiniões pessoais são importantes, mas elas deveriam ficar limitadas ao seu lugar e deveria ser consciente de suas severas limitações.
Gosto de exemplificar o lugar da opinião com um fenômeno bastante conhecido aqui no Brasil. O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) ocorre todo ano e milhares de pessoas de todos os Estados realizam uma avaliação para mensurar o nível de ensino básico que tiveram e acessarem, de acordo com as suas condições, o ensino superior. No exame existem as questões de cunho tradicional/científicas onde de modo objetivo se testa habilidades das diferentes áreas que compõe os saberes humanos. E, também, existe uma parte da avaliação onde se verifica a capacidade de organizar argumentos de forma dissertativa, o popular artigo de opinião.

Nesta etapa de dissertação do Exame Nacional do Ensino Médio o tema é sigiloso até o momento de realização da prova. Com o passar do tempo de realização compreendemos os critérios de avaliação da redação e entendemos que os responsáveis pela escolha do tema o fazem de forma a prestigiar algum tema relevante da atualidade. No entanto, até o momento da prova não existe certeza sobre o tema que será objeto da redação.

O bom estudante, ou a boa estudante, ao longo de sua preparação para o Exame trabalha um pouco de cada tema relevante na atualidade, mas, não possui tempo hábil para aprofundar nenhuma temática da realidade vigente, porque isto lhe renderia deixar de estudar outras coisas, afinal, temos tempo limitado. No dia da escrita da redação o estudante, ou a estudante, conhece o tema que será objeto de sua argumentação, tem contato com referências propostas na própria avaliação e estrutura a sua redação com estes recursos. Sendo assim, pergunto-lhes: uma redação que passou por este processo possui a mesma qualidade de uma redação que se submeteu a metodologia científica, filosófica, artística, ou de qualquer outra forma tradicional de consolidar os saberes tradicionais humanos?

Mesmo sem ter debruçado neste texto como funciona a metodologia científica, filosófica, artística ou de qualquer outra forma tradicional do conhecimento humano, nossa intuição já reconhece que as condições da opinião são muito mais limitadas do que as formas de conhecimento que possuem outros tempos, recursos e que se legitimam em forma de tradição – ou seja, é coletivamente validado devido aos critérios compreendidos pelos que realizam tal tradição.

Em suma, as opiniões possuem sim uma função em nossa estrutura de pensamento, a dúvida que parece pertinente após a exposição proposta é: as opiniões, frutos das individualidades, podem ser consideradas expressões da verdade em que medida? Sabendo que os saberes tradicionais possuem mais recursos, tempos e legitimidade, por que as pessoas falam tanto do ponto de vista pessoal e pouco sobre os saberes tradicionalmente construídos?

Como você caro leitor ou leitora pode perceber, estas questões são complexas, por isso, talvez seja muito pertinente que todos nós sejamos capazes de problematizar as nossas opiniões. Você é capaz disto?

Embora este texto seja bastante introdutório e uma opinião, acredito que ele tenha cumprido a sua função de propor uma reflexão sobre o lugar da opinião e da individualidade no modo de conhecer o mundo. Em outras ocasiões poderemos aprofundar estas questões e buscar respostas mais precisas sobre o que estamos tentando compreender. Esta necessidade de tempos e recursos futuros para aprofundar a questão não seria mais uma prova das limitações da opinião?

Até breve! Obrigado por me acompanhar até aqui.
Caso tenha gostado, que tal ajudar a compartilhar? Caso tenha encontrado erros ou gostaria de fazer alguma crítica, que tal comentar abaixo?
Atenciosamente.
Prof. Ricardo de Jesus Lopes

terça-feira, 29 de março de 2022

Professores e professoras, a união é o único caminho


 

Saudações fraternas a você que me oferta generosamente a sua atenção.


No dia 29.03.2022 a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo votou pela aprovação do Projeto de Lei que foi proposto pelo Governador e seu Secretário da Educação para mudança no Plano de Carreira dos Docentes. Apesar das manifestações contrárias, dos esforços de diálogo para negociar pontos centrais do projeto, das lacunas deixadas pelo Projeto de Lei, nós, docentes, fomos derrotados e precisamos reconhecer este fato.


Não é possível neste momento fazer um contraponto otimista e deixar palavras de esperança. Neste momento, talvez seja muito pertinente mantermos nossas emoções e sentimento de luto no seu devido lugar. Talvez, devemos focar no luto como variação do verbo “lutar”.


A política pública educacional nos possui, trabalhadores (as) da educação, como os grandes agentes de realização da estrutura estatal e social. No entanto, nem sempre estamos atuantes em todas as formas de realizar deliberações e ações políticas. Muitas vezes a sala de aula é o nosso único ambiente.


É difícil reconhecer, mas, a nossa inércia permitiu que agentes de outros campos “tomassem”, ou melhor, se apropriassem, do nosso espaço por direito. Nós precisamos retomar o nosso protagonismo, a nossa autonomia e nossa força enquanto agentes fundamentais da construção de uma comunidade, de uma cidade, de um Estado e de nossa Nação.


Uma das dimensões fundamentais de nosso trabalho é a sala de aula. Ali precisamos fortalecer e oferecer o nosso máximo, sempre, para que nossos alunos, alunas e alunes tenham as melhores oportunidades para o seu desenvolvimento intelectual, ético, político, em suma, cidadania plena. Somente uma sala de aula de qualidade poderá formar situações democráticas, produzir experiências de formação de autonomia e condições capazes de valorizar todas as vozes que constituem o nosso povo.


Outra dimensão importantíssima é a nossa organização em colegiados escolares, tal como o Conselho de Escola, a Associação de Pais e Mestres, ou equivalentes. Nesta dimensão deliberamos de forma democrática as situações mais envolventes de nosso cotidiano e de nossa rotina escolar.


Precisamos fortalecer grupos, associações ou equivalentes que abram espaço para mediar as relações entre o cotidiano escolar e as políticas públicas formuladas nas instituições legislativas e executivas responsáveis. Dito de outro modo, precisamos compreender que do chão da escola até as Assembleias Legislativas ou os Palácios dos Executivos existe um espaço de produção política. Ali precisamos mediar aquilo que é exigência de nossa realidade imediata e dos projetos de coletividade expressos como políticas oficiais.


Ainda, não podemos esquecer de manter um sindicato que seja capaz de unificar a classe dos trabalhadores (as) que possuem o mesmo ofício, ou seja, embora nos últimos anos uma opinião pública procure enfraquecer os sindicatos tradicionais, são eles que permitem pensar em nossa existência enquanto categoria e nele podemos agir como unidade social engajada com a dimensão educacional. Se nossos sindicatos não nos representam, precisamos lutar para que nosso espaço seja garantido ali.


É preciso focar em planos consistentes de curto, médio e longo prazo que precisam ser permanentes discussões e deliberações em esfera legislativa. Para conseguir fazer isso, precisamos eleger representantes que levantem as demandas ou pautas que julgamos pertinentes e devemos como cidadãos cuidar de perto dos mandatos daqueles que elegemos como nossos representantes.


Até aqui o trabalho já está árduo e bastante complexo. Mas, ainda é preciso lembrar que também é preciso ter planos para o funcionamento do poder executivo e por isso precisamos conhecer bem as propostas educacionais feitas pelos prefeitos (as/es), governadores (as) e presidente (a). Os representantes do executivo possuem intimas relações com as demais esferas organizadas da educação, por isso, conseguem articular estratégias e ações com impacto social, que podem ser construtoras ou destruidoras.


Embora tenha escrito este caminho em forma de esboço geral, talvez este esboço seja um caminho interessante para pensarmos a educação enquanto política pública, como uma dimensão um pouco maior que as conversas cotidianas estabelecem. Precisamos articular nossas ações para que organizemos os nossos esforços de modo efetivo. Precisamos reconhecer que A UNIÃO É O ÚNICO CAMINHO.


Ainda existem mais pautas que precisam ser levantas? Caso queira e possa, comente aqui neste texto temas que julga fundamental para a realização da política pública de educação que afeta a vida de todos os brasileiros, brasileiras e brasileires.

Atenciosamente.

Obs: Ajude-nos a melhorar. Encontrou algum erro, algum equívoco ou falha, por favor sinalizar nos comentários que o autor irá imediatamente rever ou tratar a questão.

domingo, 27 de março de 2022

Aos meus alunos, alunas e alunes, com muito carinho!



Saudações queridos alunos, alunas e alunes. Escrevo esta carta com o coração apertadinho, mas com muita esperança e com muita confiança que tudo que se conquista nesta vida é fruto do trabalho e da dedicação que empreendemos.


Não quero amenizar a nossa condição. Desde que entrei na escola pública do Estado de São Paulo em agosto de 2012 enfrentamos variadas e hostis condições. Mas, com nossa alegria e empenho conquistamos, superamos e chegamos a ponto de realizar ou acreditar com força em nossos sonhos.


A opinião pública, ou dito de outro modo, as pessoas que não fazem parte do cotidiano escolar, não sabem as coisas que passamos ali. Nós temos um objetivo final coletivo, alcançar o mais elevado nível de ensino e de aprendizagem que podemos, nas condições que temos. Mas, sabemos que não estamos descolados do mundo e por isso possuímos responsabilidades e compromissos, com nossos pares, com nossos familiares ou responsáveis, com nossa comunidade, com nossa cidade, com nosso Estado, com nosso País, com o Mundo e sem dúvida com o que legaremos para as próximas gerações.


Apesar de um esforço externo de querer conscientemente ou inconscientemente nos colocar como inimigos, professores (as) e alunos (as/es), nós seguimos empenhados em nosso relacionamento e o tamanho de nossa teimosia é o tamanho de nossos sonhos!


Sonhamos com uma sociedade mais justa, com democracia, com respeito pela diversidade, com empenho coletivo para tornar a vida melhor. Sonhamos que todos possam realizar as suas potencialidades e que todos sejam respeitos! Sempre!!!!


Mas, o mundo não é feito de nossos desejos. Quantas vezes tivemos que enfrentar os problemas da realidade? Quantas vezes alunos (as/es) e professores (as) tiveram de enfrentar o racismo? Quantas vezes alunos (as/es) e professores (as) tiveram de enfrentar o machismo? Quantas vezes alunos (as/es) e professores (as) tiveram de enfrentar as violências de gênero? Quantas vezes alunos (as/es) e professores (as) tiveram de enfrentar o alcoolismo? Quantas vezes alunos (as/es) e professores (as) tiveram de enfrentar a violência doméstica? Quantas vezes alunos (as/es) e professores (as) tiveram de enfrentar o assédio moral? Quantas vezes alunos (as/es) e professores (as) tiveram de enfrentar a xenofobia? Quantas vezes alunos (as/es) e professores (as) tiveram de enfrentar LGBTQIA+fobia? Quantas vezes alunos (as/es) e professores (as) tiveram de enfrentar a violência contra a criança e o adolescente? Quantas vezes alunos (as/es) e professores (as) tiveram de enfrentar a violência contra o idoso? Quantas vezes alunos (as/es) e professores (as) tiveram de enfrentar a miséria? Quantas vezes alunos (as/es) e professores (as) tiveram de enfrentar o desemprego? Em suma, quantas vezes precisamos enfrentar o nosso mundo para alimentar os nossos sonhos? Quantas vezes precisaremos enfrentar as violências? Quantas vezes ainda teremos de enfrentar?


Eu sei que muitas vezes querem nos colocar uns contra os outros, mas, NÃO CONSEGUIRÃO NOS IMOBILIZAR. Nós seguiremos na luta. Nós enfrentaremos toda a adversidade e hostilidade. Nós produziremos uma realidade melhor para a nossa e para a vida coletiva.


Você, querido (a/e) aluno (a/e) não está sozinho. E eu, enquanto professor da escola pública, estou? Seus professores e professoras podem contar com você? Mande aquela força para o seu professor e professora para que ele (a) não se sinta só...


Atenciosamente.


domingo, 26 de julho de 2020

Uma figura pública deve sugerir consumo de determinado medicamento?


 

Saudações nobres leitores, leitoras e leitorxs.


Recentemente a pandemia de Covid-19 nos fez repensar um posicionamento que poderia estar sem visibilidade em outras épocas. Uma figura pública qualquer tem o direito ou deve sugerir o consumo de determinado medicamento para usos coletivos?


A ausência de um tratamento comprovado para lidar com as enfermidades causadas pelo coronavírus que estabeleceu uma pandemia, trouxe para o debate da opinião pública as pesquisas que buscam drogas e tratamentos adequados para os infectados com o vírus. Dada a velocidade que o vírus se propagou, as pesquisas que normalmente duram anos, décadas e até séculos, passaram a integrar a “boca do povo”, passaram a fazer parte das conversas sobre a realidade e nomes como “cloroquina” e “hidroxicloroquina” passaram a fazer parte do imaginário social.


Muitos medicamentos passaram a ser utilizados em testes e como tratamento oferecido em Hospitais, todos que se baseiam nas características da doença e nas drogas já conhecidas para outras doenças. O caminho mais curto, que passou a ser utilizado para tentar tratar a Covid-19, era o da comunidade científica e médica compartilhar informações, drogas e procedimentos, buscando salvar o máximo de vidas.


Como qualquer assunto que é incorporado pela cultura comum sem o tempo hábil para demonstrar seus fundamentos, justificações e demonstrações, é que passaram a integrar uma disputa pela legitimidade. Ou seja, durante este enfrentamento atual, a opinião pública despreza todos os fundamentos que em chamados tempos “normais” as ciências estabelecem para validar seus posicionamentos e passamos a discutir ciência através do senso comum, como se tentativas e erros fossem a estrutura do funcionamento científico. A ciência se desenvolve justamente tentando superar este tipo de dispositivo de conhecimento, em certos tipos de pesquisa o erro significa morte e não podemos tratar como um joguete, ou como uma “roleta russa”. As ciências procuram ter uma base sólida para tomada de decisões e para a condução do esforço coletivo.


No anseio de encontrar um tratamento e uma droga capazes de tratar o Covid-19 a substância cloroquina foi cogitada e utilizada em alguns contextos de desenvolvimento da doença, tendo, em primeiro momento, uma APARÊNCIA de resultado positivo. Então, as esferas políticas pegaram esta informação parcial e passaram a produzir um discurso massificado de que foi encontrado uma forma de lidar com a enfermidade. Os médicos que estavam diante do êxito que utilizaram a droga passaram a ser “autoridades” que fundaram a veracidade do medicamento. Cientistas e médicos que atentaram para as limitações das pesquisas e dos resultados do uso desta droga até o momento passaram a integrar uma espécie de oposição a suposta “cura” e passaram a ser alvos de ataques por figuras públicas, mas não pela comunidade científica, porque esta última tem plena consciência dos modos pelos quais se faz a produção do conhecimento.


A comunidade científica e médica continuou pesquisando a droga e recentemente tiveram uma resposta mais bem fundamentada e mais definitiva, o uso de “cloroquina” em casos leves e moderados de Covid-19 não são eficazes e em determinados casos levam ao agravamento, sendo recomendado, então, pelos órgãos reguladores desestimular o uso da droga. Alguns países trataram de se livrar deste medicamento que havia sido adquirido em massa pela promessa de resultados positivos. Outros países insistem na droga já obtida materialmente, afinal, o que será feito com os milhões de comprimidos desta droga que foram adquiridos. Mas, os líderes públicos não possuem autoridade para recomendar o uso de medicamentos, quem irá recomendar o uso de um ou de outro medicamento é justamente o médico que interage com o paciente, os órgãos que são responsáveis pela mediação entre médico (a) e paciente. Estes órgãos e estas pessoas que são responsáveis pela indicação de droga ou de tratamento são cautelosas, justamente porque são individualmente responsáveis pelas consequências de suas ações, deliberações e decisões.


Em todo este contexto, passamos a ver uma figura do alto poder brasileiro tomar um medicamento de forma pública e estimular o seu uso para o tratamento da Covid-19. Esta figura não tem respaldo dos órgãos de medicina, nem dos órgãos de pesquisa científica e nem de nenhuma instituição que regula as ações de enfrentamento da pandemia.


Sendo assim, surgiu uma dúvida neste pobre ser pensante que vos fala: uma figura pública deve sugerir o consumo de um determinado medicamento?


Parece, após o esta linha de raciocínio, que as questões relativas ao uso de drogas e de tratamentos eficientes para a atual pandemia exigem um nível de complexidade alto, especialmente porque envolve tantas variáveis e tantas responsabilidades que uma atitude precipitada levará ao óbito de um, de dezenas, de centenas, de milhares de pessoas.


A opinião pública deve mesmo se interessar pela temática e deve fazer parte das discussões uma vez que na maior parte do globo exaltamos regimes democráticos, ou seja, onde o povo é soberano nas tomadas de decisão. A preocupação é: devemos trazer os pensamentos e os saberes sobre o tema a partir da cultura comum ou devemos trazer os pensamentos e os saberes sobre o tema a partir dos fundamentos das ciências contemporâneas?


Sinceramente, a razão que parece mais razoável nesta ocasião é conseguir demonstrar a complexidade da tradição e das instituições científicas e após o embasamento abrir as discussões em esfera pública. A tomada de decisões sem o conhecimento destes fundamentos seria um erro, na medida que como povo não estávamos devidamente formados para lidar sobre questões virais, sobre substâncias medicamentosas na ordem pandêmica, sobre tratamentos adequados às mutações dos coronavírus.


Parece-me, de modo muito interessante, que grande parte da população tem procurado se esclarecer sobre o tema. Parece que cientistas têm se preocupado com a vulgarização e divulgação para a pessoa comum de suas pesquisas. Este parece um caminho adequado ao tratamento da questão complexa que vivemos.


O destaque que deve ser feito é: nenhuma figura pública pode, neste momento de incertezas indicar nenhum caminho, método, tratamento ou medicamento. Mesmo que esteja certo, e num futuro possamos provar isto, não podemos minimizar a complexidade da realidade que vivemos. E se a figura pública errar na recomendação? O justo parece que se cobre a responsabilidade por cada óbito derivado de sua ação, afinal, não é isso que fazemos com os cientistas e com o médicos que erram no exercício de sua função?


Espero que o texto que desenvolvi, demonstre que as figuras públicas devem se preocupar com as suas ações, afinal, estão sendo observadas pelo coletivo e tará sempre quem a utilize como referência. O ideal seria, justamente, que a figura pública se torne a referência, mas podemos utilizar isto neste momento?


Eu não sei se a figura pública deve indicar medicamento. E SE, indicam algo e algum cidadão segue a recomendação? Aí seria responsável pela consequência, que poderia ser benéfica ou maléfica, em caso de maléfica creio que o a opinião pública seria responsabilizar, seria punir se causasse um óbito. Quem vai responsabilizar o mais alto escalão do poder democrático brasileiro? Sinceramente, o responsável deve ser o povo! Creio que devemos pensar mais sobre esta questão...


Afinal, uma figura pública deve sugerir consumo de um determinado medicamento?

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